Dólar volta a cair e fecha no menor valor em dois meses; veja a quanto
O dólar à vista retomou nesta quarta-feira (05) a trajetória mais recente de baixa frente ao real, na esteira da percepção positiva em relação ao novo arcabouço fiscal do governo e da divulgação de dados fracos sobre a atividade econômica nos Estados Unidos, que reforçam a avaliação de que os juros norte-americanos podem não continuar subindo.
Neste contexto, profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos segue favorável à entrada de dólares no país, o que pesa sobre as cotações da divisa estrangeira.
Com isso, o dólar fechou o dia cotado bem perto de R$ 5,05 reais na venda no mercado à vista, em queda de 0,4%. Foi o menor valor de fechamento desde o início de fevereiro. Na B3, por volta das 17h05, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento (em maio) caía 0,43%, a R$ 5,07.
Dólar impulsionado por mercado local
A moeda americana recuou ante o real durante toda a sessão. No início do dia, a participação do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, em evento do Bradesco BBI, em São Paulo, foi bem recebida nas mesas de operação.
Embora os comentários tenham reforçado falas anteriores, a percepção foi de que a relação do BC com o governo está melhor do que há algumas semanas.
Campos Neto falou para uma plateia do mercado financeiro que é preciso reconhecer o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir os riscos fiscais do país com a apresentação do novo arcabouço fiscal.
“Eu acho que o que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”, afirmou Campos Neto.
Indicadores dos Estados Unidos no radar
Contudo, mais do que às notícias domésticas, o câmbio reagiu à divulgação de dados fracos da economia norte-americana.
O relatório de Emprego Nacional da ADP, dos Estados Unidos, mostrou que foram abertos 145 mil postos de trabalho no setor privado no mês passado. Economistas consultados pela Reuters previam abertura de 200 mil vagas.
Já o Instituto de Gestão de Fornecimento (ISM, na sigla em inglês) informou que seu PMI não manufatureiro caiu para 51,2 em março, de 55,1 em fevereiro. Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI não manufatureiro cairia para 54,5.
Os números reforçaram a percepção de fraqueza da economia norte-americana, o que em tese diminui o espaço para que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) continue a elevar sua taxa de juros.
Logo após a divulgação dos dados do ISM, o dólar registrou a cotação mínima do dia, de R$ 5,01, com recuo de 1,3%. Na sequência, porém, desacelerou as perdas, com investidores realizando lucros e outros agentes, como importadores, aproveitando as cotações mais baixas para comprar moeda.
“Os dados lá fora sugerem desaceleração da atividade, da inflação, e aí temos dois impactos que reverberam: o risco latente de haver uma recessão da economia americana, o que penaliza ativos como o dólar, e o que será feito na próxima reunião do Fed”, comentou o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo.
Ele acrescentou que “existe muita gente avaliando a possibilidade de haver a manutenção da taxa de juros nos Estados Unidos. Isso traz um impacto direto no diferencial de juros entre aqui e lá, o que gera fluxo financeiro”.
Um operador ouvido pela Reuters acrescentou que, nos últimos dias, não há motivos para que o dólar suba ante o real. Segundo ele, os ruídos políticos no Brasil diminuíram e a agenda está relativamente esvaziada.
Fluxo cambial em março
O Brasil registrou fluxo cambial total positivo de US$ 3,58 bilhões em março, favorecido pela entrada de moeda pela via comercial, após encerrar fevereiro com entradas líquidas de US$ 4,77 bilhões. As informações são do Banco Central.
Os dados mais recentes são preliminares e fazem parte das estatísticas referentes ao câmbio contratado. Em contrapartida, pelo canal financeiro, houve saídas de US$ 3,46 bilhões no mês passado.
Por este canal são realizados os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, as remessas de lucro e o pagamento de juros, entre outras operações. Além disso, pelo canal comercial, o saldo de março foi positivo em US$ 7,04 bilhões.
No acumulado do ano até 31 de março, o Brasil registra fluxo cambial total positivo de US$ 12,52 bilhões.