Dólar: Veja o que pode atrapalhar moeda abaixo de R$ 4,80 até o fim do ano
O dólar comercial derreteu 9,3% no primeiro semestre de 2023, atingindo o menor patamar para o período desde 2016. O melhor desempenho em sete anos foi resultado de um combo.
Entre os motivos que levaram a moeda norte-americana a esse tombo, está o diferencial de juros do Brasil em relação a outras grandes economias (carry trade), em meio à alta da taxa Selic. O que resultou em uma forte entrada de investidor estrangeiro no país.
Ainda sobre juros, os Estados Unidos seguiram a trajetória de alta de juros, assim como o Banco Central Europeu (BCE). O que contribuiu para uma melhora do comportamento de moedas de países emergentes, como o real.
Além disso, a aprovação do novo arcabouço fiscal mudou a visão de investidores em relação a condução dos gastos públicos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, fator que trouxe alívio também ao investidor doméstico.
Contudo, os primeiros seis meses do ano acabaram e começamos uma nova temporada. Afinal, o que esperar do segundo semestre?
Dólar deve repetir o tombo no 2º semestre?
A expectativa do mercado ainda é de baixa para a moeda americana. Em meio ao derretimento frente ao real, grandes bancos têm revisado as projeções para o dólar ao fim de 2023.
Sendo assim, o Credit Suisse revisou para baixo a estimativa, passando de R$ 5,00 para R$ 4,70 até o fim do terceiro trimestre. Já o Bank of American (BofA) vê o dólar a R$ 4,90 ao fim deste ano.
Por sua vez, o UBS Wealth Management ajustou as projeções para o fim do terceiro e quarto trimestres, para R$ 4,60 e R$ 4,80, respectivamente.
Segundo os economistas da instituição financeira, o ambiente global é um dos principais impulsionadores para a queda da moeda estrangeira, como vem acontecendo desde o começo do ano. Eles lembram que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) interrompeu a alta de juros no mês passado.
“Embora seu gráfico de pontos [dot plot] atualizado mostre dois aumentos adicionais de 0,25 pontos percentuais este ano, vemos os bancos centrais americano, da Europa, Suíça e Reino Unido completando seus ciclos de caminhada no curto prazo”, dizem, acreditando que quedas de juros tornam-se mais prováveis no início de 2024.
No entanto, o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, diz que vê um dólar mais forte no segundo semestre com o mercado ainda atento ao ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. “Até o fim do ano, é possível que o dólar esteja mais comportado globalmente. Talvez aí, no curtíssimo prazo, [a moeda] deve cair mais”, avalia.
Em sua revisão, o UBS ainda cita a política monetária local, no qual o Banco Central (BC) deverá iniciar a trajetória de corte da taxa Selic, provavelmente, em agosto.
Para além de juros aqui e lá fora
Além disso, os economistas do banco consideram o cenário econômico doméstico, as perspectivas fiscais e a contribuição da balança comercial brasileira.
“O Brasil registrou superávit comercial recorde de US$ 43,4 bilhões em janeiro até a terceira semana de junho. Isso excede em mais de US$ 10 bilhões, recorde para o período desde 2017”, comentam, acrescentando que isso se deve ao crescimento das exportações e uma retração nas importações.
Enquanto o UBS Wealth Management espera superávit acima do registrado em recorde este ano, acima de US$ 70 bilhões, a Tendências espera um montante um pouco acima, de US$ 73,5 bilhões, diz Campos.
“O Brasil está com uma posição de contas externas favorável. Por mais que os preços das commodities estejam passando por uma correção. Nesse contexto, no comparativo com outros emergentes, a gente está se sobressaindo”, observa.
Dólar volátil pode voltar
Entretanto, apesar do otimismo de bancões com o dólar até o fim de 2023, o economista da Tendências chama a atenção para assuntos que devem ganhar força nos próximos meses.
Segundo Campos, a transição de diretores do Banco Central e as questões fiscais, em meio à discussão da reforma tributária, podem trazer volatilidade ao câmbio no ambiente doméstico.
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“Tem riscos no horizonte para monitorar. Para 2024, claro. Mas é uma tendência ainda para este ano. Um deles é o arcabouço fiscal, no qual a implementação não será simples e cujas metas não serão alcançadas”, pondera.
Além disso, o profissional da Tendências comenta que as mudanças na diretoria do BC, e os cortes de juros, podem trazer volatilidade, mesmo que essas pautas pesem um pouco mais no ano que vem. Contudo, ele diz que o jogo para o dólar está, de certa forma.
Porém, Campos vê o dólar perdendo um pouco de força no cenário global. “É mais um cenário de acomodação até o fim deste ano. Apesar de vermos um viés baixista para a moeda, a nossa expectativa é de R$ 5,05 para o fim de dezembro”, conclui o economista.