Dólar vai abaixo de R$ 5,43 com vantagem de Biden em Estados cruciais
O dólar ampliava as perdas contra o real nesta sexta-feira, depois de ter operado em alta por boa parte da manhã, e ficou abaixo dos 5,43 reais na mínima do dia, com os investidores voltando a buscar ativos de risco em meio às perspectivas cada vez maiores de uma vitória de Joe Biden nas eleições dos Estados Unidos.
O candidato democrata à presidência passou a ter vantagem sobre o presidente republicano Donald Trump na apuração dos votos nos Estados da Geórgia e da Pensilvânia nesta manhã, acumulando 253 votos contra 214 no Colégio Eleitoral que decide o vencedor da eleição.
Em Nevada, com 92% das urnas apuradas, o candidato democrata também estava na liderança, com 49,8% dos votos.
Biden, de 77 anos, se tornará o próximo presidente se vencer na Pensilvânia, ou se vencer em dois Estados do trio formado por Geórgia, Nevada e Arizona.
Às 14:29, o dólar recuava 1,85%, a 5,4430 reais na venda, tendo alcançado o patamar de 5,4274 na mínima do pregão, queda de 2,13% e seu menor nível desde 22 de setembro.
Mais cedo, na máxima do dia, o dólar havia saltado 1%, a 5,5751 reais.
A expectativa de vitória de Biden “exerce pressão baixista sobre o dólar porque uma presidência do democrata poderia ser positiva para o sentimento de risco global”, disse à Reuters Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos, destacando que “Biden passou Trump em Estados extremamente cruciais”.
Ao contrário dos polêmicos posicionamentos do atual presidente republicano nos últimos anos à frente da Casa Branca, “o comportamento (de Biden) não é errático, volátil e imprevisível”, o que poderia reduzir a busca por segurança na moeda norte-americana, acrescentou.
Os mercados mais amplos já haviam precificado que uma vitória de Biden seria positiva para mercados emergentes, principalmente devido à maior probabilidade de aprovação de estímulos fiscais e às perspectivas de uma política comercial mais aberta na maior economia do mundo.
Além disso, vários especialistas apontaram a liderança dos republicanos na corrida eleitoral pelo comando do Senado dos EUA como positiva em um cenário de provável vitória democrata na Casa Branca. Isso porque o equilíbrio no governo norte-americano evitaria a aprovação de maiores impostos ou restrições sobre as empresas do país.
Desde o fechamento da última sexta-feira a moeda norte-americana acumula queda de mais de 5%.
Na véspera, o dólar negociado no mercado interbancário fechou cotado a 5,5455 reais na venda, seu menor patamar para encerramento desde 9 de outubro. Com isso, em apenas dois dias a divisa perdeu mais de 3,7%, depois de ter fechado a terça-feira em 5,7609 reais.
No Brasil, continuava no radar a saúde das contas públicas, com os investidores à espera de uma indicação clara sobre se o governo respeitará ou não seu teto de gastos. A principal dúvida é sobre como um pacote de auxílio social seria financiado diante de um orçamento apertado para 2021.
Ao mesmo tempo, a agenda de reformas estruturais –considerada como essencial por boa parte dos mercados financeiros locais– segue atrasada. “Sem reformas, somos perigosamente suscetíveis ao pior do que pode acontecer no caso de qualquer crise se agravar no mundo como a atual”, disse Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse nesta sexta-feira que o debate da reforma administrativa deve começar na próxima semana.