Dólar (USDBLR) salta quase 2% após relatório de emprego dos EUA e críticas de Lula à autonomia do BC
O dólar (USDBLR) disparou quase 2% frente ao real nesta sexta-feira, depois que um relatório de emprego surpreendentemente forte do governo dos Estados Unidos reduziu esperanças de abrandamento do aperto monetário do Federal Reserve, enquanto investidores continuaram repercutindo críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à independência do Banco Central.
No mercado à vista, o dólar subiu 1,98%, a 5,1456 reais na venda, bem distante de patamares intradiários abaixo de 5 atingidos na véspera.
A moeda teve a maior valorização percentual diária desde 10 de novembro passado (+4,10%) e a cotação de encerramento mais alta desde 23 de janeiro (5,1993)
Na semana, a divisa norte-americana avançou 0,64%.
O dólar disparou globalmente depois que o Departamento do Trabalho dos EUA informou nesta sexta-feira a abertura de 517 mil vagas de emprego fora do setor agrícola do país no mês passado.
A leitura ficou bem acima das 185 mil vagas esperadas por economistas consultados pela Reuters.
Os dados “mostram que o mercado de trabalho está muito apertado, sem sinais de que terá um arrefecimento significativo no curto prazo”, disse Nicole Kretzmann, economista-chefe da UPON Global Capital. “Portanto, aumenta muito a probabilidade de que o Fed precise manter a política monetária em patamar mais restritivo e por mais tempo.”
Após os dados de emprego desta sexta, o mercado futuro norte-americano passou a refletir chances maiores de que o Fed não pare de elevar os juros até que chegue à faixa de 5% a 5,25%.
Antes do relatório, os operadores viam uma pausa em pouco menos de 5% como mais provável, principalmente depois que o chair do banco central, Jerome Powell, comemorou na quarta-feira um recente arrefecimento nos dados de inflação norte-americanos.
Respaldaram a perspectiva de uma postura ainda rígida por parte do Federal Reserve dados mais fortes do que o esperado do setor de serviços dos Estados Unidos, cuja atividade se recuperou acentuadamente em janeiro.
Juros mais altos na maior economia do mundo tendem a redirecionar recursos de ativos mais arriscados para o mercado de renda fixa norte-americano, que é extremamente seguro.
Nesse contexto, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes avançava mais de 1% nesta tarde.
Segundo Denilson Alencastro, economista-chefe da Geral Asset, também colaboraram para a alta do dólar frente ao real nesta sessão falas recentes de Lula, que afirmou na quinta-feira em entrevista à RedeTV que pode buscar rever a autonomia do Banco Central quando terminar o mandato do atual presidente da instituição, Roberto Campos Neto, em 2024.
Lula tem criticado a taxa de juros elevada e a independência do BC com frequência, afirmando que a instituição não faz mais agora do que quando seu presidente era trocado sempre que um novo governo assumia.
Separadamente, sua ministra da Ciência, Luciana Santos, disse em evento com estudantes na quinta-feira que o Banco Central precisa reduzir os juros e que isso terá que ser garantido “nas ruas”, sugerindo uma mobilização da equipe do governo por trás dessa agenda.
Por outro lado, o líder governista no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse nesta sexta-feira que a autonomia do Banco Central não está na pauta do governo e que o Lula não pediu a elaboração de uma proposta legislativa para reverter a independência formal da autoridade monetária.
Na véspera, o dólar chegou a ser negociado abaixo dos 5 reais pela primeira vez desde junho do ano passado, o que Diego Costa, chefe de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio, atribuiu em parte ao comunicado de política monetária do Banco Central, que na quarta-feira manteve a Selic em 13,75% e indicou juro altos por mais tempo.
“Aqui o Bacen manteve a taxa inalterada e indicou que não deve retroceder tão cedo, indo na contramão de recentes pronunciamentos de representantes do governo que desejavam um breve recuo e começaram a ventilar a possibilidade de revisão sobre a autonomia do Banco Central”, disse Costa.
Custos de empréstimo altos no Brasil tornam o real mais atraente para uso em estratégias que buscam lucrar com diferenciais de juros entre economias. Por outro lado, tendem a esfriar a atividade econômica, o que no curto prazo pode jogar contra a agenda desenvolvimentista do governo Lula.