Dólar (USDBLR) tem maior queda para maio em 13 anos, mas horizonte é turvo com exterior e eleições
O dólar (USDBLR) voltou a oscilar entre perdas e ganhos ao longo do pregão, mas acabou fechando praticamente estável, na casa de 4,75 reais, numa terça-feira sem direção comum nos mercados globais de câmbio e ao fim de um mês instável marcado por preocupações com desaceleração econômica global.
O dólar à vista registrou variação positiva de 0,02%, a 4,7542 reais, após variar de 4,7805 reais (+0,58%) a 4,698 reais (-1,16%).
Os extremos de preço foram marcados ainda pela manhã, antes da definição da Ptax de fim de mês, alvo de “briga” entre investidores que apostam na queda ou alta da moeda dos EUA dentro de suas posições.
Após as 13h, passadas as consultas da Ptax pelo Banco Central no mercado, as taxas de câmbio passaram a variar dentro de uma banda estreita.
A terça-feira foi de dólar forte ante moedas do G10 e com desempenho misto em comparação a emergentes, após a inflação recorde na zona do euro reavivar temores sobre risco de aperto mais contundente da política monetária por BCs de países centrais o que poderia frear sobremaneira a expansão econômica mundial, com repercussões negativas para mercados emergentes como o Brasil.
Ainda assim, em maio o dólar recuou 3,83% ante o real maior queda desde março (-7,63%) e a mais forte para o mês desde 2009 (-10,26%).
O real teve o terceiro melhor desempenho mensal entre alguns de seus principais pares emergentes, atrás de rublo russo (+16,5%) e peso colombiano (+5,1%).
A trajetória de maio, no entanto, foi tortuosa.
O dólar chegou a acumular alta de 4,29% no mês até o dia 9, quando globalmente investidores sentiam a pressão de juros mais altos em meio a preocupações sobre a China.
Posteriormente, uma combinação de dados norte-americanos ainda fortes com leituras sugerindo inflação próxima do pico amenizou receios de estagflação, abrindo espaço para uma retomada do apetite por risco que beneficiou as mais variadas classes de ativos, entre as quais o câmbio emergente.
Sobre o próximo mês, junho historicamente é de queda do dólar. Desde 2003 a moeda recuou em 14 ocasiões e subiu em cinco.
O dia 15 será particularmente importante, quando tanto o banco central norte-americano quanto o brasileiro anunciarão decisões de política monetária com potencial de mexer com os cenários traçados até aqui por analistas.
O economista-chefe do BV, Roberto Padovani, ponderou que sua expectativa é de dólar forte no mundo com juros em alta e crescimento mais fraco, o que teoricamente pressiona para baixo os preços das commodities cuja escalada esteve por trás da valorização recente do real. “Essa combinação em tese mais do que compensa os juros elevados do Brasil”, disse.
Padovani vê dólar de 5,50 reais ao fim do ano, alta nominal de 15,69% na comparação com o fechamento desta terça.
“O segundo semestre no Brasil vai ser ruim para o mercado cambial. Além dos fatores externos, teremos aqui desaceleração econômica importante nesse período, e historicamente menos crescimento não atrai capital”, afirmou. “Se você combina desaceleração global, local e eleições aqui, isso se traduz em aumento de risco.”
O Citi passou a ver recentemente dólar mais alto ao fim do ano, em 5,27 reais (+10,85% contra o encerramento desta terça), de 5,19 reais da estimativa anterior, citando motivos semelhantes. “As incertezas domésticas podem escalar à medida que nos aproximamos da eleição presidencial” de outubro, disseram em relatório Leonardo Porto, Paulo Lopes e Thais Ortega.
Em 2022, o dólar cai 14,70% (em termos nominais), o que deixa a moeda brasileira com a melhor performance entre 33 rivais da divisa norte-americana.
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