Dólar: 3 pontos que são ‘calcanhar de Aquiles’ para moeda até posse de Lula
O dólar à vista tem reagido a cada passo dado pela equipe de transição do governo eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. De um lado, a especulação de nomes que irão compor a equipe econômica, sobretudo, quem assumirá o Ministério da Fazenda – que deve retornar no terceiro governo de Lula. Do outro, as declarações do presidente eleito que têm deixado o mercado financeiro bastante sensível.
Na semana passada, a moeda norte-americana passou dos R$ 5,50, cotação que analistas estimaram para caso Lula fosse eleito em 30 de outubro – e o que não acabou acontecendo com a vitória do petista nas urnas. Ao contrário das previsões, o dólar caiu quase 5% na semana pós-segundo turno, com “gringos puxando” o movimento de queda, comenta o sócio-analista da Ajax Asset, Rafael Passos.
“O mercado antecipou e comprou muito cedo um Lula de 2002. São movimentos”, comenta. Porém, para ele, três questões têm “puxado” o dólar para cima.
Dólar das incertezas
Passada a euforia com a eleição de Lula, que resultou em uma forte entrada de investidores estrangeiros na bolsa brasileira, o mercado passou a precificar os nomes especulados para assumir, principalmente, a Pasta da Economia (ou o Ministério da Fazenda).
Passos comenta que o mercado “comprou” as notícias de que Henrique Meirelles – ex-presidente do Banco Central nos governos de Lula e ex-ministro da Fazenda de Michel Temer -, poderia ser o ministro à frente da equipe econômica.
“Sendo meio que porta-voz de assuntos econômicos, além de acenar apoio à Lula no segundo turno das eleições, Meirelles deu sinais de que poderia carregar a Fazenda”, diz Passos.
Porém, bastou o nome do ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, circular como possível novo ministro da Fazenda para chegar ao fim a lua-de-mel do mercado com Lula.
Ministro técnico ou político?
Passos observa que, à medida que os nomes da equipe de transição foram sendo divulgados pelo vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, investidores entenderam que um nome político deverá assumir a Fazenda.
“Não acho que um nome político seja o caos, o fim do mundo. O Lula pode até colocar um político à frente da Fazenda, mas tem de ter uma equipe mais técnica. Isso é positivo”, diz.
Ele acrescenta que, pelos nomes da equipe, Alckmin parece “estar sem força” dentro do novo governo. “Além da minuta da PEC da Transição apresentada”, destaca.
Calcanhar de Aquiles
A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, reforça que investidores estão ponderando o risco fiscal, diante as declarações de Lula sobre o teto de gastos e após Alckmin entregar ao Senado a minuta da PEC de Transição.
“Esse assunto é o calcanhar de Aquiles do nosso país”, pondera. Segundo ela, a abertura da curva de juros nos últimos dias é o mercado precificando, eventualmente, uma pequena alta da taxa Selic em 2023 – algo já contemplado no relatório Focus desta segunda-feira.
Portanto, a queda viria apenas em 2024, deixando os juros elevados por um período prolongado, diz. “Nesses momentos, o investidor busca refúgio no dólar”, completa.
Fura o teto, fura os R$ 5,50
Passos, da Ajax, destaca que o teto de gastos é o terceiro ponto de atenção dos investidores. Tanto que, uma projeção de gastos públicos “muito mais forte” no governo Lula, fez o mercado “voltar para a realidade” e parar de “tomar” risco. “Com a falta de previsibilidade de curto prazo, o investidor está se defendendo”, avalia.
Abdelmalack pondera que a PEC da Transição, na qual prevê quase R$ 200 bilhões fora do teto de gastos, deve esbarrar no Congresso, podendo passar por um enxugamento. Seja estabelecendo um limite temporal para o gasto fora do Teto, seja revisitando o valor que está sendo proposto.
“É a esperança. O mercado se agarrou nessa possibilidade de que não será um cenário tão ruim assim”, reforça a economista, pontuando que, em meio à possibilidade de um muro no Congresso, o dólar voltou para os níveis de R$ 5,30.
E o dólar até Lula tomar posse?
“O dólar tem oscilado em cima desses assuntos. Enquanto não houver clareza do desenho que a PEC vai tomar dentro do Congresso, esse assunto vai trazer bastante oscilação para os ativos domésticos”, reforça a economista da Veedha.
O analista da Ajax acrescenta que haverá forte volatilidade até o fim da transição de governo. “Porque o mercado quer previsibilidade. E não está tendo”, diz.
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