Dólar teve impactos positivos e negativos em empresas no 2T22; entenda
Os resultados financeiros da maioria das empresas listadas na B3 no segundo trimestre foram vistos como positivos. Até melhores do que o esperado.
Entretanto, muitas delas sentiram os efeitos da valorização de 10% do dólar de abril a junho. Principalmente empresas ligadas à commodities. Para o bem e para o mal.
Para o bem
A estrategista de ações da XP, Jennie Li, destaca que empresas do setor de proteína animal têm muita exposição nos Estados Unidos. Com isso, elas foram beneficiadas com a alta do dólar.
“Tanto é que a Minerva teve receita recorde no segundo trimestre”, comenta. Em relatório, o Santander cita o bom desempenho das exportações de carne bovina pela empresa. O que refletiu na disparada de seu lucro e nas receitas.
Entretanto, o sócio da Nexgen Capital, Felipe Izac, ressalta que as empresas desse setor não só têm faturamento atrelado ao dólar, como também os custos.
A alta de preços dos insumos, como o milho, refletiu nos gastos dos frigoríficos. Mas, ainda assim, a JBS também reportou bons resultados.
Por outro lado, a BRF apresentou resultados mistos, com o dólar puxando os custos da empresa no período, diz a profissional da XP.
Outros setores beneficiados pela valorização do dólar no trimestre foram papel e celulose, com a XP destacando os resultados positivos de Irani e Klabin.
“Apesar de a Klabin ficar mais protegida com as oscilações do dólar em meio ao portfólio mais diversificado que ela tem”, comenta.
Para o mal
Izac, da Nexgen, pondera que as companhias dependentes da China em seus negócios deram uma derrapada no trimestre.
Ele destaca os resultados de mineradoras e siderúrgicas, que apresentaram volumes de produção menores com a demanda reprimida no país asiático.
A analista-chefe do Inter, Gabriela Joubert, reforça que os resultados do setor de mineração desapontaram no trimestre com volumes produzidos e vendidos aquém das expectativas.
Aéreas e turismo
O sócio da Nexgen destaca que o dólar impactou também os resultados de Azul e Gol.
Uma vez que houve aumento expressivo no preço de combustíveis no período, refletindo em alta dos custos das aéreas.
“O preço do querosene subiu muito e é dolarizado. Essas empresas não conseguiram repassar tanto [a alta] para o consumidor. Isso refletiu na redução do número de viagens e claro, no financeiro das aéreas”, avalia.
Além do setor de aviação, a operadora de turismo CVC também exibiu resultados influenciados pela alta do dólar, já que parte de seu faturamento é atrelado ao dólar.
“Com a inflação mais alta, a população tende a reduzir o consumo de coisas não essenciais como viagens”, acrescenta Izac.
Terceiro trimestre
Na lupa, o dólar não sobe mais que 2% frente ao real de julho para cá. Mas o terceiro trimestre está sendo marcado por mais altas da taxa de juros nos Estados Unidos e as eleições no Brasil.
Além disso, a estrategista da XP ressalta que o preço das commodities, de forma geral, tem caído desde julho. O que forma um pacote de motivos para o dólar estar ganhando força ante as principais moedas globais.
Isso inclui temores de recessão nos Estados Unidos, preocupações com a economia da China, além da inflação global seguir no radar do mercado.
Izac, da Nexgen, acrescenta que a volatilidade no preço dos ativos, em especial o dólar, deve ganhar força nas próximas semanas. Reflexo do risco político no Brasil.
O cenário externo é desafiador com sinais de desaceleração da demanda global, principalmente, da China, nosso principal parceiro comercial, diz Joubert, do Inter.
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