Dólar termina pregão em alta e fecha a R$ 5,34 com corte de juros e incerteza fiscal
O dólar fechou em firme alta nesta quinta-feira, com o real amargando o segundo pior desempenho entre as principais moedas um dia após o Banco Central não descartar espaço para novo corte de juros, mas alertar sobre riscos de ordem fiscal.
O câmbio doméstico foi influenciado ainda por um dia negativo para moedas emergentes em geral, com as quedas puxadas pela lira turca, que bateu mínimas recordes em meio a um salto na volatilidade.
O dólar à vista subiu 0,93%, a 5,3429 reais na venda. A cotação operou em alta durante todo o dia. Na máxima, foi a 5,373 reais (+1,50%), enquanto na mínima marcou 5,323 reais (+0,56%).
Com os ganhos desta sessão, o dólar superou sua média móvel de 100 dias, depois de dias atrás ter rompido a média móvel de 50 dias, ambos vistos como sinal de mais altas para a moeda.
Preocupações no campo fiscal têm ficado mais visíveis no mercado de câmbio.
Para o Citi, a desvalorização do real nesta quinta é condizente com performances passadas do câmbio após cortes na taxa de juros, mas o banco lembra ainda que os riscos de curto prazo ainda estão inclinados para mais deterioração das contas fiscais, com chances de extensão de auxílio emergencial e afrouxamento de regras fiscais (sobretudo teto de gastos) como os maiores riscos.
Em carta mensal, a gestora Garde cita preocupações com as contas públicas e diz estar reavaliando seu otimismo com relação ao mercado de câmbio local.
“Apesar da contínua melhora do saldo em transações correntes e a moderação dos fluxos de saída de investimento estrangeiro em portfólio, a melhora esperada para o fluxo cambial não ocorreu conforme projetávamos”, disse a casa no documento.
“Temos notado novamente o movimento de menor contratação de câmbio para exportação à despeito da melhora da balança comercial e uma saída de pagamentos de empréstimos externos, o que levanta novamente a questão do impacto do juro baixo sobre os fluxos de capitais no país”, completou a Garde.
Dados do Banco Central mostraram na véspera que o Brasil teve em julho a maior saída líquida de dólares para o mês em cinco anos. O BC cortou na quarta-feira a Selic em 0,25 ponto percentual, para nova mínima recorde de 2,00% ao ano, sem fechar a porta para eventual nova redução.
Também em carta mensal, o Opportunity, gestor de recursos, acredita que a fraqueza global do dólar, que vinha proporcionando alívio ao mercado local, deve arrefecer, por expectativas de que a economia norte-americana retome seu destaque no crescimento mundial abrandada a crise do coronavírus. A casa também mostra cautela sobre o debate fiscal no Brasil.
“Assistiremos no mês de agosto ao acirramento das discussões em torno de temas espinhosos como a substituição do auxílio emergencial, além das já conhecidas pressões por aumento de gastos”, disse o Opportunity, afirmando que os “primeiros sinais (desse debate) não parecem construtivos”.
No exterior, a lista de perdas ante o dólar era liderada por moedas emergentes, a começar por lira turca e na sequência vindo o real. Dados melhores do mercado de trabalho dos EUA deram argumentos para retomada de posições em dólar, que nos mercados externos teve em julho o pior mês em uma década.
“Acho que os patamares do dólar perto de 5,30 reais, 5,20 reais estão mais para um piso de curto prazo”, disse Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora. “Vão começar as eleições sobre agenda de reformas e eleições aqui e nos EUA. O mercado parece não ter reagido a isso ainda, então o risco é de mais volatilidade.”