Retrospectiva 2023

Dólar tem queda histórica em 2023 e recorde não visto desde 2016; veja cotação

28 dez 2023, 17:17 - atualizado em 28 dez 2023, 17:47
dólar
A moeda norte-americana encerrou acumulando uma queda de 8,08% frente ao real (Imagem: REUTERS/Jose Luis Gonzalez)

O dólar fechou o último pregão do ano em alta frente ao real, apoiado pela cena externa, enquanto repercutiram no Brasil o anúncio de novas medidas econômicas e dados de inflação acima do esperado.

Apesar da alta de 0,39% no dia, a 4,8516 reais na venda, a moeda norte-americana encerrou acumulando uma queda de 8,08% frente ao real, a mais intensa baixa anual desde o tombo de 17,5% visto em 2016.

A divisa brasileira foi apoiada em 2023 em grande parte pelo alívio de temores fiscais domésticos e pelo diferencial de juros ainda relevante entre Brasil e Estados Unidos — temas que devem continuar norteando os negócios no ano que vem — bem como por uma forte safra agrícola no primeiro semestre.

A última sessão de um ano amplamente positivo para o real foi marcada por volatilidade nas primeiras horas de negócios, devido à disputa pelo fechamento da taxa Ptax de dezembro e aos volumes reduzidos antes do Ano Novo.

A alta do dólar frente ao real no dia acompanhou a virada para positivo no índice que compara a divisa norte-americana contra uma cesta de pares fortes, que subia 0,40% nesta tarde.

O movimento estava em linha com a alta dos rendimentos dos Treasuries, que alguns operadores associaram a ajuste após uma tendência recente de arrefecimento das taxas e queda do dólar.

Na cena doméstica, mais cedo nesta quinta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo enviará ao Congresso uma medida provisória estabelecendo a reoneração gradual da folha de pagamento dos 17 setores hoje isentos desse pagamento, mantendo uma desoneração parcial sobre valores equivalentes a um salário mínimo.

Haddad também anunciou que será fixada uma limitação anual das compensações tributárias para decisões judiciais determinando créditos acima de 10 milhões de reais, bem como o fim gradual do Perse, programa de benefícios tributários criado durante a pandemia da Covid-19 para proteger setores como o de eventos, hotéis e restaurantes.

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“Assim como os projetos votados ao longo de dezembro, o conjunto de medidas anunciadas hoje possui impacto significativo sobre o potencial de arrecadação tanto de 2024 quanto para os anos subsequentes”, avaliou Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

No entanto, “o conjunto das medidas não será responsável por equalizar as contas públicas no próximo ano, conforme demandado pelo arcabouço fiscal, o que não desqualifica em absolutamente nada sua importância para a estrutura das contas públicas do país” num prazo mais longo, completou o economista.

Apesar da persistência de várias incertezas em relação às contas públicas, participantes do mercado notaram melhora fiscal ao longo deste ano, com esforço da equipe econômica para tentar aumentar a arrecadação e alcançar a meta de déficit primário zero em 2024, um dos fatores que explica a forte desvalorização do dólar no acumulado do ano.

Investidores também reagiram nesta quinta-feira a dados que mostraram que o IPCA-15 superou expectativas e subiu 0,40% em dezembro, embora ainda tenha fechado 2023 com alta de 4,72% –resultado que está dentro da banda de tolerância da meta oficial de inflação.

Na esteira dos dados, a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitoria, disse que “não preocupa o rumo da política monetária no curto prazo, há muito espaço para os cortes de 0,50 (ponto percentual) nas próximas reuniões do Copom”.

A não aceleração do ritmo de afrouxamento monetário do BC tende a jogar a favor do real, principalmente num contexto de ampla expectativa de redução dos juros pelo Federal Reserve no ano que vem.

Quanto maior o diferencial de juros entre o Brasil e as economias avançadas, mais interessante fica o real para uso em estratégias de “carry trade”, que consistem na tomada de empréstimo em países com taxas baixas e aplicação dos recursos em mercados mais rentáveis, o que também explica o fortalecimento do real no acumulado de 2023.

A força extraordinária do setor agropecuário no início deste ano foi o outro importante impulsionador do real nos últimos 12 meses, segundo participantes do mercado.