Dólar tem maior queda em três semanas e fecha a R$ 5,36
O dólar (USDBRL) registrou a maior queda em três semanas frente ao real nesta quinta-feira, mais do que devolvendo o ganho da véspera, com desmonte de posições que utilizavam o câmbio como “hedge” ditando ajuste um dia depois de movimento entre Executivo e Legislativo em defesa do equilíbrio fiscal.
O dólar à vista caiu 1,56%, a 5,3675 reais na venda. Foi a maior queda percentual diária desde 22 de julho (-1,87%) e mais do que apagou a alta de 0,70% da véspera.
O real liderou os ganhos entre as principais moedas nesta sessão, depois de ter encabeçado a lista de perdas na véspera.
Na B3 (B3SA3), o dólar futuro recuava 1,31% às 17h01, para 5,3685 reais.
O Banco Central não realizou leilões de câmbio nesta sessão. Na quarta, a autoridade monetária fez duas ofertas líquidas de contratos de swap cambial tradicional, o que não ocorria desde maio, quando o dólar bateu seguidos recordes nominais.
A venda de swap cambial equivale a uma colocação de dólares no mercado futuro, ajudando a amenizar pressão compradora sobre a moeda.
Enquanto o dólar caiu, a curva de juros voltou a inclinar e o Ibovespa recuou 1,58% (segundo dados preliminares). Vitor Péricles, estrategista-chefe da Laic Gestão de Recursos, vê essa combinação como sinal de redução de posições compradas em dólar para proteção de carteiras em outros mercados.
“Acho o movimento lógico e dotado de boa avaliação de assimetrias de risco. O mercado já estava com muito pouco, quase nenhum prêmio, em ativo nenhum”, disse.
Mais cedo, dados apontaram que a atividade no setor de serviços no Brasil cresceu em junho depois de quatro quedas seguidas, com recuperação acima do esperado. O número corrobora expectativas de retomada da economia, ainda que com percalços.
Mas o tema fiscal seguiu no radar. O mercado começou esta sessão digerindo discurso feito na véspera pelo presidente Jair Bolsonaro em defesa da manutenção do teto de gastos e da responsabilidade fiscal. O chefe do Executivo afinou o conteúdo com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que estavam a seu lado durante fala na noite de quarta e que também saíram em defesa do equilíbrio das contas públicas.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, esteve presente na ocasião, mas não discursou. O mercado reagiu mal na véspera à saída, na terça-feira, de dois importantes secretários de Guedes, que, em tom de desabafo, cobrou comprometimento com o ajuste fiscal.
Nesta quinta, Maia afirmou que a reunião com Bolsonaro, ministros e lideranças foi uma decisão “acertada“, que passa a mensagem de alinhamento do discurso do Executivo e do Legislativo em respeitar o teto de gastos em 2021.
Operadores monitoraram ainda o panorama externo, com agentes de mercado ainda incomodados com o impasse nas negociações sobre novo estímulo fiscal nos EUA. Um fraco leilão de dívida soberana norte-americana deu algum impulso ao dólar no exterior durante a tarde.
“Hoje tivemos um leilão de Treasury 30 anos bem feio. Se isso se tornar uma tendência, pode mudar a dinâmica para os mercados e afetar, em cheio, os emergentes”, afirmou Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos.
A fraca demanda no leilão de Treasuries impulsionou os rendimentos desses papéis. Com maiores retornos, esse mercado –considerado o mais seguro do mundo– pode atrair fluxos que hoje potencialmente miram mercados emergentes.