Dólar tem alta contra real em meio a ruídos domésticos e aversão a risco no exterior
O dólar avançava nesta terça-feira, seguindo confortavelmente acima dos 5,60 reais, refletindo cenário internacional de menor apetite por risco em meio a perspectivas de aumentos de juros nos Estados Unidos já em 2022.
Ruídos em torno da tramitação da PEC dos Precatórios no Congresso também davam suporte à moeda norte-americana, mantendo investidores cautelosos sobre as perspectivas fiscais do Brasil.
Às 10:46, o dólar avançava 0,88%, a 5,6433 reais na venda, após chegar a tocar 5,6390 reais na máxima do pregão, alta de 0,80%. Na B3, o dólar futuro subia 0,82%, a 5,6375 reais.
Esse comportamento estava em linha com a força internacional do dólar, cujo índice frente a uma cesta de seis rivais fortes rondava máximas em 16 meses, apoiado pela notícia de que o presidente dos EUA, Joe Biden, nomeou Jerome Powell para um segundo mandato como chair do Federal Reserve, o banco central norte-americano.
Lael Brainard, diretora do Fed que era considerada outra provável opção de Biden para o cargo principal do Fed, acabou sendo nomeada vice-chair.
“Embora (Powell) seja considerado bastante ‘dovish’, leniente em relação à inflação, a pessoa que poderia ter sido indicada no lugar dele seria ainda mais ‘dovish'”, explicou à Reuters Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos.
A recondução de Powell, desta forma, elevou expectativas de que o banco central dos EUA aperte sua política monetária mais cedo do que o esperado, com os mercados monetários passando a precificar aumentos das taxas de empréstimo já em junho de 2022. “Se os juros sobem, isso ajuda a moeda norte-americana”, disse Morelli.
Enquanto isso, no Brasil, seguem as discussões e negociações da PEC dos Precatórios no Senado. A proposta precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) antes de ser votada pelo plenário da Casa.
Morelli disse não concordar com a visão de alguns participantes do mercado de que eventual aprovação da PEC dos Precatórios poderia representar uma “virada de página” na recente incerteza doméstica em torno das contas publicas.
“Acho que o problema fiscal brasileiro no curto prazo não está somente amarrado à PEC. Ele está na baixa confiança de agentes econômicos no comprometimento do governo com o teto fiscal”, afirmou o estrategista.
“E a pressão por mais gastos não vai terminar no curto prazo”, alertou, uma vez que as eleições presidenciais — amplamente vistas pelo mercado financeiro como incentivo a medidas populistas — só acontecerão no segundo semestre de 2022.
Morelli acredita que o dólar deve alcançar patamares elevados de até 5,80 reais ao longo do ano que vem, devido a eventuais aumentos de juros nos EUA e pressão das eleições no Brasil, mas vê possibilidade de que a moeda encerre 2022 mais barata, em torno dos 5,40.
Isso porque o próximo presidente do Brasil já estará definido e a taxa Selic estará em patamares bem altos, dando apoio ao real.
Na última sessão, o dólar à vista caiu 0,29%, a 5,5941 reais na venda, interrompendo sequência de cinco altas seguidas em que somou ganho de 3,84%.