Dólar supera R$ 5,41 no pico do dia em linha com exterior e incerteza fiscal doméstica
O dólar ganhava terreno nesta terça-feira, embora tenha arrefecido a alta depois de chegar a superar os 5,41 reais no pico do dia, em meio a persistentes temores fiscais domésticos e forte demanda pela divisa norte-americana no exterior.
Às 10:20, o dólar avançava 0,27%, a 5,3936 reais na venda, depois de subir 0,67% na máxima da sessão, a 5,4149 reais. O dólar futuro negociado na B3 tinha estabilidade, a 5,397 reais.
Esse comportamento refletia a valorização generalizada do dólar pelos mercados de câmbio globais, com o índice da moeda frente a seis rivais fortes em alta de 0,3%. Peso mexicano, lira turca e rand sul-africano, três dos principais pares do real, caíam de 0,6% a 1% nesta manhã.
A sinalização do Federal Reserve da semana passada — de que pode começar a reduzir suas compras mensais de títulos já em novembro, com possibilidade de elevação de juros mais cedo do que o esperado — tem impulsionado os rendimentos dos títulos do governo norte-americano nos últimos dias, com a taxa de dez anos acima de 1,5%. O maior retorno da dívida dos Estados Unidos, por sua vez, dava suporte ao dólar.
Enquanto isso, no Brasil, o Congresso Nacional aprovou na segunda-feira o Projeto de Lei do Congresso Nacional (PLN) que cria as bases para a instituição do novo programa social em substituição ao Bolsa Família, o que elevou a cautela dos mercados em meio a dúvidas crescentes sobre a capacidade do governo de respeitar seu teto fiscal.
“O dólar ainda é a moeda de segurança do mundo, então qualquer ruído interno, político ou fiscal, impulsiona a divisa”, disse à Reuters Bruno Mori, planejador financeiro CFP pela Planejar.
De acordo com o especialista, a pressão constante do governo por mais gastos com o chamado Auxílio Brasil não é fator isolado de desconforto para os mercados, que já ficaram descontentes no início do mês com a taxação sobre lucros e dividendos prevista na reforma do Imposto de Renda aprovada pela Câmara dos Deputados.
Além dos ruídos relacionados à saúde das contas públicas, Mori afirmou que, com a aproximação da formação da taxa Ptax de fim de mês e trimestre, é possível ver uma pressão compradora mais forte sobre o dólar nos próximos dias.
A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para liquidação de derivativos. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes a suas posições.
No acumulado do mês de setembro, o dólar já sobe 4,4% contra o real, depois de encerrar o mês anterior em 5,1724 reais na venda. Em relação à mínima para fechamento de 2021 — de 4,9062, atingida em 24 de junho — a divisa norte-americana tem alta de cerca de 10%.
Em relação ao patamar de encerramento de 2020, de 5,1915 reais na venda, o dólar acumula alta de aproximadamente 4%.
Para Mori, no entanto, ainda há espaço para alguma valorização do real nos próximos meses, uma vez que “o Banco Central vai fazer um esforço adicional pra trazer (o dólar) para baixo, uma vez que o câmbio tem um papel importante na dinâmica de inflação”.
O Banco Central começou nesta semana a realizar leilões de swap cambial tradicional com o objetivo de manter o funcionamento regular do mercado de câmbio, de olho na demanda por moeda relacionada ao desmonte pelos bancos de uma proteção cambial adicional (“overhedge”).
A autarquia está vivendo atualmente um processo intenso de elevação de juros com o objetivo de segurar as pressões sobre os preços, cada vez mais altas e disseminadas.
O dólar spot fechou a última sessão em alta de 0,65%, a 5,37895 reais na venda.
(Atualizada às 10:36)