Dólar supera R$ 5,00 com força da moeda no exterior; mercado digere IPCA-15
O dólar subia pelo quarto pregão consecutivo nesta quarta-feira, e foi negociado confortavelmente acima dos 5 reais nas máximas do dia, alinhado à força da moeda norte-americana no exterior, enquanto investidores digeriam dados de inflação domésticos mais fracos que o esperado para abril, embora a leitura ainda tenha sido a mais forte para o mês em quase 30 anos.
Às 10:40 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,42%, a 5,0110 reais na venda. No pico da sessão, a moeda chegou a saltar 1,03%, a 5,0412 reais.
Caso mantivesse essa taxa até o fim dos negócios, a moeda registraria a maior cotação para um encerramento desde 16 de março passado (5,0917).
A moeda norte-americana vem de um rali nas últimas três sessões, período em que acumulou valorização de 8,04%, deixando o real com o pior desempenho global nos últimos dias e levando o Banco Central a intervir no mercado de câmbio tanto na sexta passada quanto na véspera.
A alta, tanto nesta quarta-feira quanto nas sessões anteriores, tem acompanhado a disparada do dólar no exterior, onde seu índice contra uma cesta de rivais fortes tocou máxima desde janeiro de 2017 nesta manhã.
O dólar também ganhava amplo terreno contra divisas emergentes ou sensíveis às commodities, como rand sul-africano e peso mexicano.
“A queda do real nos últimos dias não é divertida, mas está em consonância com o restante dos mercados emergentes”, disse em postagem no Twitter Robin Brooks, economista-chefe do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).
“O Brasil não é mais um estranho no ninho”, acrescentou, lembrando a tendência de descolamento do real em relação ao seus pares que foi observada durante a pandemia de Covid-19, quando não conseguiu acompanhar a recuperação de várias outras divisas latino-americanas.
Por trás do desempenho fraco de ativos arriscados de todo o mundo está a perspectiva de um aperto monetário mais agressivo nos Estados Unidos, que aponta retornos mais interessantes na renda fixa norte-americana à frente, o que tende a impulsionar o apelo do dólar. Várias autoridades do Federal Reserve, banco central dos EUA, incluindo o chair Jerome Powell, já indicaram que subirão os juros em 0,5 ponto percentual em seu encontro de 3 e 4 de maio.
Também tem afetado o apetite por risco o temor de desaceleração econômica na China, cujo centro financeiro de Xangai está sob um rígido lockdown há cerca de um mês, à medida que o país enfrenta novos surtos de Covid-19.
Enquanto isso, no Brasil, investidores digeriam a notícia de que o IPCA-15, prévia da inflação brasileira, teve neste mês alta de 1,73%, contra 0,95% em março, maior patamar para abril desde 1995 (1,95%). Apesar da forte aceleração, a leitura ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters, de taxa de 1,85%.
O resultado levou o avanço acumulado do IPCA-15 a 12,03% nos 12 meses até abril, contra projeção de alta de 12,16%.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, comentou que o resultado, embora abaixo da expectativa, deve manter a porta aberta para um aumento de juros além do próximo encontro do Comitê de Política Monetária do Banco Central, quando o colegiado deve aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 12,75%.
“Acho que o mercado penalizaria, em termo de câmbio e de curva de juros”, qualquer sinalização de que o BC interromperia o ciclo de aperto monetário já no mês que vem, disse Cruz.
As taxas dos principais contratos de DI caíam de 5 a 20 pontos-base ao longo da curva de juros até janeiro de 2023 nesta quarta-feira.
Os custos cada vez mais elevados dos empréstimos no Brasil são vistos como fator de suporte para o real, que ainda acumula o melhor desempenho contra o dólar no ano entre uma cesta das principais moedas globais.
Até agora em 2022, a divisa norte-americana cai mais de 10% frente à brasileira.
Na B3, às 10:40 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,06%, a 5,0100 reais.
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