Dólar sobe 0,6% e fecha a R$ 5,38 após dia de intensa volatilidade
O dólar fechou em alta ante o real nesta terça-feira, ao fim de uma sessão de grande volatilidade em meio a um dia de cautela tanto no mercado externo, quanto no doméstico.
Operadores seguiram comentando sobre a menor liquidez no câmbio local, que manteve o mercado suscetível a operações pontuais de poucos players, movimento que em parte decorre e ao mesmo tempo alimenta a volatilidade.
O dólar à vista <BRBY> subiu 0,63%, a 5,3856 reais na venda.
Na B3 (B3SA3), o dólar futuro tinha valorização de 0,47%, a 5,3900 reais, às 17h07. De acordo com análise técnica da XP Investimentos, o dólar futuro está em tendência de alta. A casa considera que, acima dos 5,388 reais, a cotação buscaria 5,513 reais ou 5,986 reais. Os suportes estão em 5,133 reais e 4,821 reais.
O dólar à vista abriu em alta e bateu logo no começo dos negócios a máxima do dia –de 5,4027 reais, ganho de 0,95%. Mas já na sequência passou a perder fôlego, virou para queda após as 10h até atingir a mínima da sessão (5,2895 reais, recuo de 1,17%). O movimento atraiu compras que fizeram a divisa recobrar forças e voltar a subir.
A moeda acelerou os ganhos por volta de 12h20, já alguns minutos depois de o presidente Jair Bolsonaro dizer que seu teste para coronavírus havia dado positivo. As mesas de operações começaram a comentar sobre a saúde do ministro da Economia, Paulo Guedes, que estivera com Bolsonaro na segunda-feira.
“Claro que a notícia pode ter gerado alguma especulação, mas daí contaminar o mercado é um chute muito longo”, disse Fernando Bergallo, sócio da FB Capital. “Não vejo isso como algo relevante do ponto de vista econômico”, acrescentou.
Comentários do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre juros de cartão de crédito e cheque especial se somaram aos ruídos. O repique do dólar na parte da tarde ocorreu ao mesmo tempo que a moeda no exterior intensificava os ganhos, com destaque negativo para o peso mexicano, que liderava as perdas entre as principais divisas ao cair 1,8% no fim da tarde.
O cenário para moedas emergentes, contudo, era misto, com o peso chileno <CLP=> em alta de 1,4% no dia, melhor performance global no dia.
A piora nas bolsas de valores –com o índice S&P 500 em Nova York fechando em queda preliminar de mais de 1% depois de chegar a subir– endossou o viés comprador de dólares. Receios sobre a pandemia de coronavírus voltaram a pesar sobre o sentimento.
Roberto Campos, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos, avaliou que a menor liquidez tem tido papel relevante no aumento da volatilidade cambial. “A falta de lógica nas movimentações tira referência de preço para quem quer montar posição de médio prazo, ou seja, tira players do mercado, deixando o mercado mais reativo a qualquer fluxo ou notícia”, disse.
Para ele, a notícia sobre o resultado positivo de teste de Covid-19 do presidente Bolsonaro pode até ter dado um “start” nas compras de dólares, mas não seria o fator principal do dia. A maior volatilidade no mercado de câmbio tem chamado atenção de agentes financeiros e também do Banco Central.
Há debates no mercado sobre a causa principal para isso, com alguns analistas lembrando a incerteza sobre o “lower bound” e eventuais influências suas no dólar. O “lower bound” é o patamar de juros abaixo do qual a política monetária perderia eficácia ao estimular a economia.
No fim de junho, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que o BC entendia o “lower bound” como algo muito dinâmico. A autoridade monetária tem sinalizado que o próximo movimento na Selic será um corte residual.
O juro básico nominal está na mínima recorde de 2,25% ao ano e sua sucessiva queda vinha sendo associada à performance mais fraca da taxa de câmbio.
Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos, disse que o dólar está sem padrão de comportamento e que a moeda vem oscilando nas últimas semanas de forma “lateralizada”.
“A moeda pode continuar oscilando perto de um equilíbrio entre 5,49 reais e 5,29 reais. A tendência é não ter movimentos exclusivos”, afirmou. O dólar tem estado “preso” entre suas médias móveis de 50 e 100 dias desde meados de junho, depois de entrar nessa faixa entre o fim de maio e os primeiros dias de junho.
Mas a moeda encostou na média de 50 dias nesta sessão, que, se rompida, pode atrair mais compras.
Na segunda-feira, Campos Neto disse que a expectativa da autoridade monetária é que o que chamou de novo equilíbrio entre juro mais baixo e taxa de câmbio mais desvalorizada tende a persistir no país “durante um tempo”.