Dólar sente pressão do mercado de juros e salta acima de R$ 5,35 com temores fiscais
O dólar (USDBRL) à vista sofreu uma arrancada no fim da manhã e chegava ao começo da tarde desta quarta-feira em forte alta, confortavelmente acima de 5,30 reais, com o mercado de câmbio tomado por compras defensivas em meio a uma contínua pressão nos juros futuros.
O dólar à vista saltava 1,59%, a 5,3523 reais, às 12h41 (de Brasília). O real tinha o pior desempenho global nesta sessão. O mercado de ações, bastante sensível ao comportamento dos juros, caía 0,9%, com o Ibovespa nas mínimas desde abril.
As taxas de DI disparavam nesta sessão, com os vértices mais longos em alta de até 15 pontos-base e acima de 10% ao ano a partir de janeiro de 2027 –alguns vencimentos em 2025 já flertam com dois dígitos.
O mercado de juros sentia a pressão de demanda por proteção de posições aplicadas em juro real via NTN-B, em meio a incertezas que vão da sustentabilidade da dívida pública até chances de o Banco Central precisar empurrar a Selic acima de 10% diante de uma pressão inflacionária que não se abate.
A perspectiva de juros mais altos por normalização da política monetária –que vigorou do início do ciclo de aperto monetário, em março, até pouco tempo atrás– beneficiou a taxa de câmbio, mas mais recentemente o que se tem visto é o mercado turbinar apostas em taxas mais elevadas devido à deterioração das perspectivas fiscais e inflacionárias –que começam, por ora sem alarde, a colocar em dúvida estimativas otimistas de crescimento econômico para este ano e o próximo.
Sinal da piora na percepção de risco, o spread entre as taxas de DI de janeiro 2027 e janeiro 2023 subia a 168,5 pontos-base nesta quarta, nas máximas desde o começo de junho e bem distante dos 108 pontos-base do fim de julho.
“Esperamos que o ruído fiscal seja uma constante pelo restante do ano no Brasil, à medida que os riscos aumentam progressivamente conforme o ciclo eleitoral se aproxima”, disse em relatório o economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski.
“A pressão para gastar é real, e o teto de gastos pode não escapar ileso desta vez. Limitar a perda de credibilidade fiscal será fundamental para preservar a estabilidade macroeconômica”, completou.