Dólar salta mais de 1% com foco em política monetária de grandes BCs; combustíveis ficam no radar
O dólar acelerou os ganhos nesta quinta-feira, afastando-se ainda mais de patamares abaixo da marca psicológica de 5 reais atingidos na véspera, com operadores ajustando suas perspectivas para as políticas monetárias das principais economias na esteira da reunião do Banco Central Europeu (BCE) e de dados de inflação norte-americanos.
Às 11:45 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,15%, a 5,0699 reais na venda.
Na B3, às 11:45 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,12%, a 5,1005 reais.
A moeda norte-americana vinha apresentando valorização desde a abertura das negociações, mas foi ganhando fôlego ao longo da manhã e chegou a saltar 1,29% no pico do dia, a 5,0770 reais.
Participantes do mercado repercutiam o comunicado de política monetária do BCE desta quinta-feira. Para a surpresa de muitos investidores, o banco central da zona do euro vai acelerar a redução de suas compras de títulos, apesar dos riscos que a guerra na Ucrânia representa para a economia.
“O comunicado (do BCE se) mostrou mais ‘hawk’ (duro no combate à inflação) do que esperado, mantendo a flexibilidade para movimentos futuros, mas com (orientação) de encerrar o programa de compra de ativos mais rápido e deixando espaço para subir juro nesse ano”, disse Arthur Lula Mota, da equipe de estratégia e macro do BTG Pactual.
Em postagem no Twitter, ele afirmou que o mercado entendeu que um BCE mais agressivo na conduta da política monetária deve implicar num Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) igualmente mais duro, mesmo com a crise geopolítica.
Nesse contexto, os rendimentos dos títulos soberanos dos EUA avançavam nesta manhã. Retornos maiores na dívida da maior economia do mundo são, no geral, vistos como fator de impulso para o dólar, cujo índice frente a uma cesta de rivais fortes subia 0,4%.
O mercado também digeria dados mostrando que os preços ao consumidor norte-americano saltaram à maior taxa anual desde janeiro de 1982 no mês passado. Nos 12 meses até fevereiro, a inflação acelerou a 7,9%, após uma já expressiva leitura de 7,5% em janeiro deste ano.
Com os dados de fevereiro não capturando totalmente a disparada dos preços do petróleo após a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, “o Fed deve revisar para cima sua projeção de inflação, o que vai fazer com que o mercado peça uma aceleração no ritmo de (eventuais) aumentos de juros”, comentou Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
O banco central dos EUA se reunirá na semana que vem e deve anunciar na quarta-feira um aumento de 0,25 ponto percentual nos juros, a primeira de várias altas esperadas para 2022. Participantes do mercado chegaram a prever maior agressividade, esperando elevação inicial de 0,50 ponto percentual, mas já reverteram essas apostas após comentários do chair do Fed, Jerome Powell, e a escalada nas tensões geopolíticas.
A situação na Ucrânia colaborava para o pessimismo no dia, após negociações de alto nível entre autoridades russas e ucranianas não mostrarem qualquer progresso. No mercado de ações, tanto as bolsas europeias quanto os principais índices de Wall Street registravam perdas.
Já na cena nacional, a pedido da liderança da Casa, o Senado adiou novamente, para esta quinta-feira, a votação de dois projetos que miram na alta dos preços dos combustíveis.
Um segundo dia de reunião no Palácio do Planalto para discutir subsídios para conter aumentos de preços de combustíveis terminou sem decisão na quarta-feira. Eventual medida do tipo, dizem especialistas, poderia abalar a credibilidade fiscal do Brasil e prejudicar os ativos locais.
Na véspera, o dólar spot caiu 0,82%, a 5,0124 reais na venda, menor patamar de encerramento desde 23 de fevereiro (5,0033), mas ficou bem acima de mínimas intradiárias abaixo de 5 reais.
No acumulado do ano, a moeda norte-americana ainda cai 9% frente ao real.