Dólar salta após Banco Central ‘peitar o governo’; veja a quanto
O dólar à vista fechou em alta frente ao real no pregão desta quinta-feira (23) em meio à forte aversão ao risco que dominou os ativos locais ao longo do dia.
A moeda norte-americana encerrou o pregão com ganhos de 1%, negociada a R$ 5,28 para venda. Após na reta final da sessão, acelerou os ganhos renovando máximas bem perto dos R$ 5,30.
O contrato futuro do dólar com vencimento em abril subiu 1%, a R$ 5,30. Enquanto lá fora, o Dollar Index (DXY) subia 0,2%, aos 102,6 pontos, aliviado com a pausa na alta de juros sinalizada ontem pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
Entretanto, a disparada do dólar foi em reação à decisão do Banco Central (BC) ontem, no qual o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizou que não há horizonte para corte de juros. O documento foi visto como “duro” (hawkish) por investidores locais.
Dólar reage ao Banco Central
Para o sócio-diretor da Pronto Invest, Vanei Nagem, o tom do comunicado mostrou um Banco Central “peitando” o governo, que vem fazendo críticas à condução da política monetária.
“O BC sinalizou até que poderá elevar juros. As incertezas se elevaram com esse conflito entre governo e a autoridade monetária. Tanto que após a decisão do Fed de subir o juro em 0,25 ponto percentual, era para o dólar ter caído”, avalia.
O gerente da mesa de operações da StoneX, Marcio Riauba, destaca que o real teve um dos piores desempenhos entre as mais moedas globais mais negociadas em meio ao receio de que o governo possa intervir no Banco Central. “Essas incertezas pressionaram a moeda”, reforça.
O diretor de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, observa que a alta do dólar foi reflexo de “compras defensivas”, com investidores locais preocupados com um novo embate entre o governo e a autoridade monetária.
Porém, ao mesmo tempo, a sinalização pode ser vista como mais flexível do que a anterior, ao deixar de indicar a estabilidade da Selic por um período mais prolongado do que no cenário de referência, além de alterar a descrição do balanço de riscos, passando a considerar mais riscos para a atividade econômica.
O estrategista-chefe da Warren Rena, Sérgio Goldenstein, pondera que, apesar de um comunicado mais duro, a sinalização do BC pode ser vista como mais flexível do que a anterior, ao deixar de indicar a estabilidade da Selic por um período mais prolongado do que no cenário de referência.
“Além de alterar a descrição do balanço de riscos, passando a considerar mais riscos para a atividade econômica”, acrescenta.
Alívio pode vir com ata do BC
Na terça-feira, o Banco Central divulgará a ata do Copom e, para Nagem, pode ser uma “chance” da autoridade monetária aliviar o tom “hawkish” adotado no comunicado. E, consequentemente, poderá ter efeitos no dólar.
“Vamos aguardar a ata. Se o Banco Central der uma amenizada, como fez na última reunião, poderemos ver um alívio para o dólar”, diz Nagem.
No entanto, Riauba reforça que essa decisão do Copom, aliada do tom mais duro, faz a discussão sobre a regra fiscal voltar à pauta.