Dólar salta quase 2% ante o real e volta a encostar em R$ 6,00 com tensão comercial entre EUA e China

O dólar recupera as perdas da véspera e tem forte alta nesta quinta-feira (10), com a escalada da guerra tarifária entre China e Estados Unidos ainda no centro das atenções do mercado.
No início da tarde, dólar à vista (USDBRL) renovou a máxima intradia a R$ 5,9557 (+1,85%). A divisa encerrou encerrou as negociações a R$ 5,8988, com avanço de de 0,88% — no maior nível desde 10 de março.
O movimento destoa da tendência vista no exterior. O DXY, indicador que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais como euro e libra, caiu.
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O que impulsiona o dólar ante o real?
A divisa norte-americana ganha força ante as moedas emergentes com a escalada da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Ontem (9), o presidente norte-americano, Donald Trump, elevou as tarifas contra os produtos chineses para 125%, em retaliação a alíquota de 84% imposta pelo país liderado por Xi Jinping aos bens e mercadorias fabricados nos EUA.
Já nesta quinta-feira (10), a China anunciou a restrição aos filmes produzidos em Hollywood. Em nova reposta, os EUA aumentaram, pelo terceiro dia consecutivo, as tarifas contra a segunda maior economia, para 145% — que, segundo a Casa Branca, é uma correção em relação ao divulgado na véspera (9).
Com o acirramento da tensão entre as duas maiores economias do mundo, as moedas dos países mais dependentes da China caem forte, inclusive o real. Isso porque os países emergentes possuem relações comerciais robustas com a China e devido ao impacto do impasse comercial sobre preços de commodities, com destaque para as quedas nos preços do petróleo — com o Brent recuando mais de 3%.
Os investidores também reagem a novos dados de inflação nos EUA, ainda que em segundo plano. O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu 0,1% em março, informou o Departamento do Trabalho do país. A inflação norte-americana acumula alta de 2,4% em 12 meses.
Após o dado, os agentes financeiros reduziram a aposta de que o Federal Reserve (Fed) deve manter os juros inalterados na faixa de 4,25% a 4,50% ao ano na próxima reunião, em maio. De acordo com a ferramenta FedWatch, do CME Group, os traders veem 73,4% de chance de o Fed decidir pela manutenção dos juros, ante a probabilidade de 79,6% ontem (9).
“Os dados trazem algum alívio em relação à trajetória inflacionária, mas a progressão futura continua sendo uma preocupação em meio às idas e vindas das tarifas de importação do governo americano, cujos efeitos ainda são incertos. Em cenários normais, o dado de hoje poderia favorecer o Fed a cortar juros mais cedo (o próximo corte está estimado para junho), mas, em meio à guerra comercial, o discurso baseado em cautela tende a continuar”, afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Por aqui, os investidores aguardam a divulgação de novos indicadores econômicos, entre eles, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março e o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado a prévia do Produto Interno Bruto (PIB), de fevereiro.