Dólar salta 2% ante real com tensão política doméstica amplificando cautela externa
O dólar saltava 2% frente ao real nesta segunda-feira, com o aumento das tensões políticas no Brasil na reta final da corrida eleitoral presidencial exacerbando movimento de busca pela moeda norte-americana no exterior em meio a preocupações com a saúde econômica da China.
Às 10:02 (de Brasília), o dólar à vista avançava 2,00%, a 5,2526 reais na venda, nas máximas do dia. O real tinha o pior desempenho frente ao dólar entre as principais moedas globais nesta manhã.
Na B3, às 10:02 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,70%, a 5,2585 reais.
A turbulência política doméstica era citada por vários agentes do mercado como a responsável pela depreciação do real.
No domingo, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) se entregou às autoridades horas depois de resistir a tiros e granadas e ferir dois agentes da Polícia Federal que cumpriam ordem de prisão dada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
A uma semana do acirrado segundo turno contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) procurou se distanciar de Jefferson, seu apoiador, enquanto o petista buscou relacionar o comportamento do ex-deputado com o que chamou de clima criado no país pelo atual presidente.
“Com os acontecimentos de ontem, o medo de conflitos armados envolvendo as eleições deve gerar alguma cautela por parte dos investidores”, disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus.
Ela também citou “diminuição no otimismo local” sobre possível reeleição de Bolsonaro, depois que pesquisas de intenção de voto recentes mostraram crescimento do atual presidente nas sondagens, o que forneceu impulso ao real e ao Ibovespa na semana passada.
A agenda de Bolsonaro é vista como muito mais amigável aos mercados do que a de Lula.
Embora fosse amplificada no Brasil pelas tensões locais, a alta do dólar não era isolada, com um índice que compara a divisa norte-americana a seis pares fortes ganhando 0,4% nesta manhã. Ao mesmo tempo, várias moedas emergentes ou sensíveis às commodities apresentavam queda no dia, com peso chileno, rand sul-africano e dólar australiano perdendo de 0,8% a 1,5%.
Investidores mostravam alguma preocupação com a economia da China, que, embora tenha se recuperado a ritmo mais rápido do que o esperado no terceiro trimestre, ainda enfrenta desafios de várias frentes, como as rigorosas restrições contra a Covid-19, uma crise imobiliária cada vez mais profunda e os riscos de recessão global.
Além disso, a equipe de liderança escolhida pelo presidente chinês, Xi Jinping, no Congresso do Partido Comunista ampliou os temores de que o crescimento econômico será sacrificado a favor de políticas orientadas por ideologias.
O iuan chinês perdia mais de 1% nesta segunda-feira, enquanto os temores sobre a segunda maior economia do mundo derrubavam os preços do petróleo e outras commodities, prejudicando moedas sensíveis a esse tipo de produto, como o real.
A semana promete ser agitada, com investidores à espera de dados de inflação domésticos e da reunião de política monetária do Banco Central do Brasil, que começará na terça-feira e se encerrará na quarta. A expectativa é de manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, nível de juros mais alto entre as principais economias do mundo.
“Neste quesito (patamar da Selic) não esperamos muitas novidades, dado que o cenário não sofreu relevantes alterações”, disse a equipe de estratégia e macro do BTG Pactual em relatório sobre o encontro desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom). “Possíveis sinalizações sobre o período de manutenção da taxa devem ser o destaque, dados a atividade econômica resiliente e expectativas de juros mais elevados nos EUA.”
(Atualizada às 10:29)
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