Moedas

Dólar reduz queda ante real com temores fiscais compensando BC mais agressivo

05 ago 2021, 14:11 - atualizado em 05 ago 2021, 14:11
Dólar
Às 13:59, o dólar recuava 0,11%, a 5,1835 reais na venda (Imagem: Pixabay/geralt)

O dólar passava a oscilar entre estabilidade e leve queda contra o real nesta quinta-feira, depois de bater na casa de 5,11 reais na mínima do dia, com incertezas domésticas ofuscando o posicionamento mais agressivo do Banco Central do Brasil na reunião de política monetária da véspera.

Às 13:59, o dólar recuava 0,11%, a 5,1835 reais na venda.

A moeda norte-americana foi negociada em queda por boa parte da manhã, chegando a cair 1,5% na mínima intradiária, alcançada por volta das 10h40, a 5,1108 reais na venda.

A partir das 11h30, o dólar começou a se afastar das mínimas do pregão, e, pouco depois das 13h, foi a 5,1935 reais no pico do dia, alta de 0,09%.

O movimento desta quinta-feira refletia a oposição entre dois fatores conflitantes: de um lado, pressionando a moeda norte-americana, a notícia de elevação intensa dos juros básicos pelo BC. Do outro, favorecendo a busca pela segurança do dólar, o clima tenso no front fiscal.

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Copom agressivo

O BC elevou a taxa Selic em 1 ponto percentual na quarta-feira, a 5,25% ao ano, indicando que deve repetir a dose em setembro diante das pressões inflacionárias.

Para domá-las, o BC também apontou que a necessidade agora é de uma taxa básica de juros acima do patamar neutro, ou seja, em nível suficiente para desaquecer a economia.

“Foi a maior alta de juros desde 2003”, relembrou Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio, atribuindo a desvalorização acentuada do dólar vista na parte da manhã à elevação dos juros.

Um maior diferencial de juros entre o Brasil e países de economias avançadas tende a beneficiar o real, principalmente devido a estratégias de “carry trade”. Elas consistem na tomada de empréstimos em moeda de país de juro baixo e compra de contratos futuros de uma divisa de juro maior (como o real), de forma que o investidor ganha com a diferença de taxas.

Incertezas pesam

Embora deva receber apoio do Banco Central mais “hawkish”, ou duro com a inflação, o real ainda pode ser pressionado pelo cenário fiscal doméstico, agitado recentemente pela intenção do governo de alterar a dinâmica de pagamento de precatórios.

Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para parcelamento dos precatórios irá prever a constituição de um fundo alimentado com recursos que terão destinação carimbada e ficarão fora do teto de gastos.

Críticos avaliam que ela representa uma maneira criativa de o governo aumentar substancialmente os gastos em ano eleitoral ao adotar uma espécie de calote para o pagamento de dívidas –visão que a equipe econômica rechaça.

“Em véspera de ano eleitoral, o mercado fica com medo de que governo esteja postergando (o pagamento da) dívida, fica com um pé atrás”, explicou Steiman. Segundo ele, esse receio limitava o desempenho do real nesta manhã.

Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora, compartilha das preocupações sobre o ruído fiscal, mas também alertou em nota para o movimento de alta dos preços no Brasil. Segundo ele, num cenário de inflação mais aquecida do que a elevação do juro, o ambiente para operações de “carry trade” ficaria inseguro.

A meta oficial de inflação para este ano é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Considerado uma prévia da inflação oficial, o IPCA-15 subiu 0,72% em julho, a maior alta para o mês desde 2004, com o acumulado em 12 meses passando a 8,59%.

Enquanto isso, no exterior, as expectativas dos investidores giravam em torno do importante relatório de emprego do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, que será divulgado na sexta-feira. “O ‘payroll’ oferecerá um bom sinal sobre como está a recuperação da economia norte-americana e trará pistas sobre quando o Federal Reserve vai apertar sua política monetária”, disse Steiman, da B&T.

Na quarta-feira, o dólar spot teve variação negativa de 0,03%, a 5,1890 reais na venda.