Dólar reduz perdas, mas segue perto de mínimas recentes à espera do Copom
O dólar devolveu boa parte das perdas registradas contra o real na manhã desta quarta-feira, depois de recuar com força nas últimas quatro sessões, com investidores à espera da conclusão da reunião de política monetária do Banco Central, em meio a expectativas de novo aumento acentuado da taxa Selic.
O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC será anunciado após o fechamento dos mercados.
Às 10:14 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,06%, a 5,2698 reais na venda, depois de chegar a cair 0,36% na mínima do dia, a 5,2543 reais.
Na B3 (B3SA3), às 10:14 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,05%, a 5,3040 reais.
A moeda norte-americana já vem de uma sequência de quatro pregões consecutivos de desvalorização, período em que acumulou baixa de 3,04%.
Na terça-feira, o dólar fechou em 5,2732 reais na venda, mínima desde 16 de setembro do ano passado (5,2654).
Segundo André Digiacomo, estrategista de juros e moedas para América Latina do BNP Paribas, essa fraqueza recente é explicada, em parte, pelas expectativas de alta da Selic.
Uma pesquisa da Reuters com economistas mostrou que o BC deve promover nesta quarta um terceiro aumento consecutivo de 1,5 ponto percentual na taxa básica de juros, em tentativa de minimizar riscos de novas saídas de capital à medida que o Federal Reserve, dos EUA, se prepara para começar a apertar sua própria política monetária.
Custos de empréstimos mais altos por aqui aumentam o carrego (retornos oferecidos por diferenciais de taxas de juros) da moeda brasileira. “Olhando a Selic hoje e o carrego anual do real –em torno de 10%– é dificil, caro, o investidor manter posições negativas na divisa”, explicou Digiacomo.
Além de beneficiado por fatores domésticos, o real também tem surfado na onda de apetite por risco que elevou ativos ligados a commodities e de mercados emergentes mais amplos nos últimos dias.
Nesta quarta-feira, peso mexicano e peso chileno estendiam ganhos, assim como o dólar australiano.
A recuperação de divisas mais arriscadas é reflexo do baque do ano passado, que foi difícil para muitos ativos de países em desenvolvimento, especialmente na América Latina, disse Digiacomo. “O mercado ficou muito comprado em dólares, e o que estamos vendo agora é uma correção.”
O índice do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, por sua vez, caía pelo terceiro pregão consecutivo nesta manhã, depois de ter atingido máxima desde meados de 2020 na semana passada.
Alguns participantes do mercado atribuíram o arrefecimento recente da divisa a ajustes nas apostas para aumentos de juros nos Estados Unidos, em meio a dúvidas sobre quão longe o Federal Reserve irá em sua tentativa de domar a inflação.
No momento, a visão predominante é de que o banco central norte-americano elevará os custos dos empréstimos em 0,25 ponto percentual cinco vezes ao longo deste ano, começando em março.
Isso, no geral, é visto como positivo para o dólar, já que juros mais altos elevariam a atratividade de se investir nos títulos soberanos dos EUA, mas Digiacomo afirmou que enxerga, no Brasil, fatores que poderiam proteger o real do impacto de eventual aperto monetário na maior economia do mundo.
“Além da alta da Selic, temos outros colchões: uma conta corrente em níveis mais sustentáveis, termos de troca melhores e preços altos das commodities”, disse o estrategista do BNP.
Em sua última revisão de cenário, divulgada em meados de dezembro passado, o banco francês projetava taxa de câmbio de 5,60 reais por dólar ao fim deste ano.