Dólar mostra instabilidade ante real com Congresso se unindo ao coro de críticas ao BC
O dólar mostrava instabilidade frente ao real nesta quinta-feira e tinha dificuldade para firmar um viés, com investidores retomando movimento de busca por proteção após novas críticas de aliados congressistas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária pelo Banco Central.
Enquanto isso, investidores digeriam a leitura um pouco menor do que o esperado do IPCA de janeiro e os dados surpreendentemente fracos de vendas no varejo de dezembro.
Às 10:54 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 0,16%, a 5,1884 reais na venda, depois de mais cedo ter subido até 0,56%, a 5,2257 reais.
Na B3, às 10:54 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,28%, a 5,2050 reais.
Mais cedo, o dólar chegou a cair 0,45%, a 5,1729 reais na venda, o que alguns participantes do mercado atribuíram a esperanças de que, durante viagem de Lula aos Estados Unidos, as tensões institucionais no Brasil esfriassem, ainda que temporariamente, conforme o presidente focasse outros assuntos de sua agenda que não o nível da taxa Selic.
No entanto, o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), fez coro nesta quinta-feira às críticas recentes de Lula ao atual patamar da taxa de juros, de 13,75% ao ano, e disse considerar uma “boa ideia” chamar o presidente do BC, Roberto Campos Neto, para debater o tema no Congresso.
“Acredito que o principal fator de atenção do mercado segue sem dúvida sendo a artilharia de Lula contra o BC, fogo amigo esse que já está sendo propagado pelo próprio Congresso também”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“Novamente, estamos deixando de ‘surfar’ em uma onda positiva no exterior, de inclinação a risco, por conta de fatores locais.”
Em nota a clientes, a Levante Investimentos disse que “parece inevitável, nesse momento, que a solução para o atual desentendimento (entre governo e BC) passe por uma leve revisão nas metas inflacionárias”, notando que, “nos bastidores, já se fala que, em resposta às pressões, Campos Neto irá propor uma revisão da meta de inflação para 3,5% neste ano”.
No curto prazo, haveria reação fortemente negativa dos mercados a uma revisão nos objetivos, alertou a Levante.
Ainda no Brasil, investidores digeriam a notícia de que o IPCA subiu 0,53% em janeiro, desacelerando depois de ter avançado 0,62% em dezembro, mas com os preços de alimentos e combustíveis pesando no bolso do consumidor.
Já as vendas no varejo despencaram 2,6% em dezembro sobre o mês anterior, em um resultado bem pior do que a expectativa em pesquisa da Reuters de recuo de 0,7% e a maior queda desde agosto de 2021 (-4,8%).
No exterior, o índice que compara o dólar a uma cesta de seis pares fortes caía mais de 0,6% nesta manhã, em meio à percepção de que as autoridades do Federal Reserve não endureceram muito seus discursos sobre a política monetária na esteira de fortes dados de emprego norte-americanos da semana passada.
Na véspera, a moeda norte-americana spot teve variação negativa de 0,09%, a 5,1967 reais na venda.
(Atualizada às 11:13)