Dólar recua ante real com mercados digerindo Banco Central ‘hawkish’
O dólar era negociado em queda contra o real nesta quinta-feira, com os investidores digerindo a sinalização do Banco Central de que vai promover outro aumento de 0,75 ponto percentual na taxa Selic em junho, depois de ter elevado os juros domésticos em 3,5% ao ano na véspera.
Às 10:28, o dólar recuava 0,83%, a 5,3209 reais na venda, enquanto o dólar futuro de maior liquidez caía 0,60%, a 5,336 reais.
A decisão do BC de quarta-feira marcou a segunda alta consecutiva de 0,75 ponto percentual da taxa básica de juros, movimento que acontece em meio ao aumento persistente da inflação corrente e das expectativas para a inflação de 2022.
Ao elevar os juros em março, o BC anunciou estar dando início a um processo de “normalização parcial” da política monetária, indicando a intenção de ainda manter um estímulo à economia, com os juros abaixo do patamar considerado neutro (6,5%, segundo cenário básico citado pelo BC no mês passado).
Neste novo comunicado, a autoridade monetária fez um ajuste à linguagem, destacando que “no momento” o cenário básico indica a normalização parcial da taxa de juros como apropriada, “com a manutenção de algum estímulo monetário ao longo do processo de recuperação econômica”.
“(O comunicado) alertou que os passos futuros poderão ser ajustados para cumprir a meta de inflação, reduzindo bastante seu compromisso com um ajuste parcial”, disseram analistas do Bradesco em nota. “Aqui está, a nosso ver, a maior novidade na comunicação.”
Vários analistas apontavam o aumento da Selic como um fator de apoio para o real neste pregão: “sem dúvidas, estamos trabalhando com o ‘efeito Copom‘ de ontem”, disse à Reuters Vanei Nagem, responsável pela mesa de câmbio da Terra Investimentos, referindo-se às perdas apresentadas pelo dólar nesta manhã.
Depois que a redução da Selic a mínimas históricas consecutivas em 2020 foi apontada como um fator de impulso para a moeda norte-americana, há agora entre os mercados a perspectiva de um cenário mais benigno para o real com o novo ciclo de aperto monetário do Banco Central, que poderia elevar a entrada de fluxos estrangeiros no país ao tornar alguns investimentos domésticos mais atraentes.
Ao mesmo tempo, já há sinais nos mercados globais de que a busca por maior rendimento pode manter a fraqueza mundial do dólar nos próximos meses.
“O dólar já cedeu bastante nos últimos dias e a tendência é que o real fique cada vez mais em linha com pares estrangeiros”, opinou Nagem.
Nesta manhã, o índice da divisa norte-americana contra uma cesta de moedas tinha queda de 0,2%. Peso chileno, peso mexicano e rand sul-africano, divisas emergentes cujo movimento o real tende a acompanhar, trabalhavam em alta.
O dólar spot caiu 1,23% na quarta-feira, a 5,3652 reais na venda.
Nesta sessão, o Banco Central fará leilão de swap tradicional para rolagem de até 15 mil contratos com vencimento em novembro de 2021 e março de 2022.
(Atualizada às 10h36)