Dólar tem forte queda ante real com alívio externo e eleições domésticas no radar
O dólar caía frente ao real nesta segunda-feira, acompanhando a fraqueza da moeda norte-americana no exterior em meio a pausa num movimento global de fuga para a segurança, enquanto, na cena local, investidores digeriam o debate presidencial da véspera, a pouco menos de duas semanas do segundo turno das eleições.
Apesar da desvalorização da moeda dos Estados Unidos nesta sessão, participantes do mercado alertavam para uma semana turbulenta em meio a temores globais de aperto monetário, tensões geopolíticas e incertezas político-fiscais domésticas.
Às 10:41 (de Brasília), o dólar à vista recuava 1,27%, a 5,2560 reais na venda.
Na B3, às 10:41 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,30%, a 5,2715 reais.
No exterior, um índice que compara a divisa norte-americana a uma cesta de seis rivais fortes caía 0,6% nesta manhã, abrindo espaço para a valorização de várias moedas emergentes ou sensíveis às commodities. Rand sul-africano e dólar australiano, importantes pares do real, avançavam mais de 1% no dia. As ações listadas nas principais bolsas também registravam ganhos.
Ajudava no sentimento dos mercados internacionais a notícia de que o novo ministro das Finanças do Reino Unido reverteu boa parte de um plano de corte de impostos que desencadeou ondas de estresse no mercado de títulos britânico e contaminou o apetite por risco global nas últimas semanas.
Investidores também descreviam o bom humor mundial nesta segunda-feira como um ajuste em relação ao forte tombo de ativos considerados arriscados na sexta-feira.
“Apesar de (o dólar) estar abrindo em queda, essa é uma semana um tanto quanto turbulenta quando a gente olha o cenário externo”, disse Renan Mazzo, chefe de câmbio da SVN Investimentos, citando preocupações com a guerra da Rússia na Ucrânia e a disseminação da Covid-19 na China.
A Rússia atacou cidades ucranianas com drones nesta segunda-feira, na segunda grande onda de ataques aéreos em um semana, enquanto, na China, o presidente Xi Jinping reiterou no fim de semana a eficácia de sua política de Covid-zero.
“Essas questões, somadas à questão da inflação global, preocupação com recessão, os bancos centrais subindo juros, (formam) um cenário bem turbulento… Tende a haver bastante volatilidade” ao longo da semana, disse Mazzo.
O Goldman Sachs disse em relatório recente que “o dólar tem muita coisa jogando a favor dele no momento”, já que dados econômicos norte-americanos têm se mostrado relativamente resilientes e há um forte apelo global por segurança em um ambiente de risco instável, ao mesmo tempo que “é difícil encontrar um candidato para ser substituto” da divisa norte-americana.
O índice do dólar contra pares fortes dispara mais de 17% no acumulado de 2022, e o fortalecimento externo da moeda tem sido um dos principais responsáveis pelos momentos de depreciação do real no mercado brasileiro.
No entanto, a moeda norte-americana ainda recua mais de 5% frente à brasileira até agora no ano, com o patamar elevado da taxa Selic (13,75%), o bom desempenho da economia local na comparação com pares globais e um resultado mais apertado do que o esperado no primeiro turno das eleições presidenciais servindo como colchão para o real, de acordo com especialistas.
Na cena eleitoral, investidores digeriam o debate da véspera entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) –em que o petista criticou a atuação do presidente na pandemia de Covid-19 e o candidato à reeleição atacou a corrupção na Petrobras– e aguardavam novas pesquisas de intenção de voto antes da segunda rodada do pleito presidencial, que acontecerá no dia 30 de outubro.
(Atualizada às 10:55)
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