Dólar recua ante real após alta de Trump; mercado doméstico reflete alívio político
O dólar era negociado em queda contra o real nesta terça-feira, pressionado pelo maior apetite global por risco depois da alta hospitalar do presidente norte-americano, Donald Trump, e, no cenário doméstico, refletindo uma reaproximação entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Às 10:20, o dólar recuava 0,72%, a 5,5277 reais na venda, enquanto o principal contrato de dólar futuro caía 0,90%, a 5,529 reais.
Entre uma cesta de mais de 30 pares da moeda norte-americana, o real apresentava o melhor desempenho, beneficiado pela notícia de que Guedes e Maia saíram de um jantar com outras autoridades na segunda-feira trocando elogios e pedidos de desculpas e prometendo voltar a trabalhar juntos na agenda econômica do governo.
Em meio a dúvidas sobre a saúde fiscal do Brasil, o novo programa de auxílio proposto pelo governo de Jair Bolsonaro, batizado de Renda Cidadã, tem sido um dos pontos mais recentes de atrito entre Guedes e o Congresso.
“Depois da turbulência da semana passada, a política viveu ontem um dia de alívio e reconciliação”, disserem analistas da XP Investimentos em nota.
“Entre outros assuntos, o encontro buscou saídas para destravar o impasse em que se meteu o Renda Brasil”, afirmaram, acrescentando que a promessa do senador Marcio Bittar (MDB-AC) de que o financiamento do programa respeitará o teto de gastos também ajudou a melhorar o ânimo doméstico.
Diante de um Orçamento apertado para 2021, o medo dos investidores de um possível furo do limite de gastos do governo tem norteado o mercado de câmbio, contribuindo para deixar o dólar em alta de quase 38% contra o real até agora no ano.
Além do fiscal, a incerteza política, o fraco crescimento econômico e o cenário de juros baixos no Brasil também são apontados como fatores de pressão para a moeda local.
“Entendemos que os movimentos oscilatórios do preço do real frente ao dólar expõe claramente a grandeza das incertezas presentes e nem sempre bem pontuadas”, escreveu Sidnei Moura Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora.
“A relação real/dólar atualmente não repercute fluxos cambiais legítimos transacionais, mas seguramente o grau de (…) insegurança que, embora com pequenos espasmos de contenção, poderá acentuar a demanda do ‘hedge pela insegurança’ e aviltar fortemente o preço, causando efeitos consideravelmente danosos à economia.”
No âmbito internacional, as negociações desta terça-feira eram marcadas por alívio cauteloso depois da melhora do estado de saúde do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que deixou o hospital na véspera após três noites internado ao ser diagnosticado com Covid-19.
A visão dos mercados internacionais é de que a recuperação de Trump ajudará a levantar parte da incerteza política nos EUA antes das eleições presidenciais de 3 de novembro, além de possivelmente colaborar para as negociações de um novo pacote de estímulo econômico no país.
O índice do dólar contra uma cesta de pares fortes rondava a estabilidade nesta manhã.
Na segunda-feira, a moeda norte-americana à vista teve queda de 1,75% contra o real, a 5,5678 reais na venda, maior baixa percentual diária desde 28 de agosto.
O Banco Central fará nesta sessão leilão de swap tradicional para rolagem de até 10 mil contratos com vencimento em março e julho de 2021.
(Atualizada às 10h26)