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Dólar recua 1,16% e fecha a R$ 4,90 com sinalizações de juros mais altos

24 jun 2021, 17:23 - atualizado em 24 jun 2021, 18:22
Dólar
A moeda oscilou entre 4,9697 reais (+0,12%) e 4,9023 reais (Imagem: REUTERS/Mohamed)

O dólar (USDBRL) emendou a quarta baixa consecutiva nesta quinta-feira, ameaçando agora o suporte psicológico de 4,90 reais e fechando no menor patamar em mais de um ano, com operadores repercutindo as sinalizações de juros mais altos emitidas pelo Banco Central e o ambiente externo positivo que empurrou Wall Street a novos recordes.

O dólar à vista caiu 1,16%, a 4,9062 reais na venda. É o menor patamar desde 9 de junho de 2020 (4,8885 reais).

A moeda oscilou entre 4,9697 reais (+0,12%) e 4,9023 reais (-1,24%) nesta sessão.

Na semana, o dólar recua 3,26%, aprofundando a queda em junho para 6,11%.

Em 2021, a cotação cede 5,50%, o que faz do real a divisa de melhor desempenho entre as principais.

Trata-se de uma impressionante reviravolta, já que a moeda brasileira passou boa parte deste ano na lanterna mundial e chegou a acumular depreciação de 10,38% em 9 de março, quando o dólar bateu 5,7927 reais.

Analistas voltaram a destacar que o ajuste no câmbio segue ditado pelas expectativas sobre os rumos da política monetária doméstica.

Mais cedo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC precisará adotar uma política de juros mais restritiva do que a prevista pelo mercado no relatório Focus para garantir o cumprimenta da meta de inflação em 2022.

As projeções do Focus incorporadas ao cenário-base do BC apontam Selic de 6,25% ao final deste ano e de 6,50% no fim de 2022.

No mercado, as expectativas já estão migrando para a casa de 7% ao fim de 2021, patamar mais de três vezes superior à mínima histórica de 2% que vigorou até meados de março.

“É o poder dos juros”, disse Roberto Serra, gestor sênior de câmbio da Absolute Investimentos. “O real vai continuar se ajustando à mudança no estoque (de investimentos). A mudança do juro de 2% para talvez 7% é importante e se junta à percepção de que o real estava muito desvalorizado.”

“Essa alteração no estoque deve continuar influenciando o mercado. E as subidas do dólar agora tendem a ser mais contidas, e quando ocorrerem vão aparecer vendas”, completou, prevendo que o exportador faça mais “hedge” cambial e o importador reduza a demanda por proteção na moeda norte-americana.

No mesmo evento de mais cedo, o presidente do Banco Central avaliou que a recente trajetória de apreciação do câmbio brasileiro pode ser explicada, em parte, por uma melhora do fluxo financeiro.

Essa melhora, de acordo com Campos Neto, é uma reação defasada ao superciclo das commodities evidenciada pelos números da balança comercial e também a uma procura de investidores por ativos que combinem crescimento com estabilidade fiscal.

A surpresa com o cenário de juros mais altos tem sido vista não só no Brasil, sinal de que mais mercados emergentes podem terminar o ano com taxas mais elevadas em meio a leituras de inflação mais altas e a temores de debandada de capital conforme cresce o risco de redução de estímulos nos EUA.

O México elevou sua taxa de juros nesta quinta-feira, em decisão inesperada.

O peso mexicano visto por muitos como o principal rival da moeda brasileira em termos de atração de investimento externo saltava 1,6% nesta sessão, melhor desempenho global, com o real vindo na sequência.

O Goldman Sachs destaca que o real teve performance superior a seus pares emergentes mesmo com a liquidação em ativos de risco causada pela sinalização mais dura do Fed (o banco central norte-americano) na semana passada.

A moeda da Rússia, país que também elevou os juros no começo deste mês, também foi citada como destaque.

“Embora devamos provavelmente ver mais volatilidade em uma base tática conforme o mercado digere a decisão do Fomc (que determina os juros nos EUA), essa reação de preço ressalta nosso estudo anterior de que as moedas emergentes de países que estão com juros em alta podem ter desempenho superior em um ambiente reflacionário”, disseram estrategistas do banco em nota.

O bom desempenho do real nesta quinta foi turbinado ainda pelo ambiente externo pró-risco. As bolsas de valores de Nova York  voltaram a cravar recordes, e as commodities chegaram ao fim da tarde em alta, assim como boa parte das moedas de risco, com o otimismo sobre a recuperação global e após um acordo nos EUA sobre um pacote de infraestrutura.