Dólar: Por que a moeda cai se a PEC da Transição incomoda tanto?
A PEC da Transição foi aprovada ontem na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o texto assegura, principalmente, o pagamento do Auxílio Brasil, ou Bolsa Família como será rebatizado no governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva, por dois anos no valor de R$ 600. Já que o assunto incomoda bastante o mercado, por que o dólar cai?
A moeda norte-americana já exibiu bastante volatilidade nas primeiras horas de negócios, oscilando entre R$ 5,21 e R$ 5,27, passando de alta para queda. Por volta das 13h55 (de Brasília) desta quarta-feira (7), o dólar à vista caía 0,2%, a R$ 5,22. Já o contrato futuro com vencimento em janeiro recuava 0,4%, a R$ 5,25.
Para o gerente da mesa de câmbio da StoneX, Marcio Riauba, o mercado financeiro doméstico “acordou com um respiro” após a aprovação do texto.
De onde vem o ‘respiro’ do dólar?
O texto da PEC da Transição aprovado retira R$ 145 bilhões por ano, em 2023 e 2024, do teto de gastos. O valor é menor que os R$ 198 bilhões previstos inicialmente na proposta do governo de transição. Além disso, ele é diferente do que foi colocado em discussão na CCJ, que previa aumentar o limite do teto de gastos em R$ 175 bilhões.
Com esse valor aprovado, o governo Lula conseguirá pagar o programa de auxílio social, que será rebatizado como Bolsa Família, a partir de janeiro a parcela de R$ 600, mais R$ 150 por criança de até seis anos da família beneficiária.
O diretor de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, avalia que a queda do dólar, mesmo que marginal, também deve-se à expectativa de investidores de que a PEC sofra mais desidratação, já que o documento poderá ser votado ainda hoje no plenário do Senado.
O operador da Commcor Corretora, Cleber Alessie, pondera que, mesmo com possíveis novas desidratações, a PEC da Transição ainda deixa o mercado financeiro em estado de atenção em relação as contas públicas. “O projeto pode dar margem a gastos adicionais, que ultrapassam o teto de gastos”, avalia.
Rugik destaca que a moeda estrangeira recua também no exterior ante seus principais pares e divisas de países emergentes, ajudando o cenário local. No horário acima, o Dollar Index tinha queda de 0,2%, aos 105,3 pontos.
Dólar de olho na PEC e no Copom
Além disso, hoje sai a decisão da última reunião de 2022 do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o futuro da taxa básica de juros (Selic), que deverá permanecer em 13,75% ao ano.
Dada a manutenção da taxa Selic, Riauba diz que o mercado ficará atento ao comunicado, que deve reforçar o tom de alerta do Banco Central (BC) sobre o risco fiscal para 2023.
“Acredito que o comunicado deve corroborar os discursos anteriores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre o cenário fiscal”, diz.
O operador da Commcor acrescenta que a posição do Copom em relação a deterioração do ambiente fiscal deve ser crucial para investidores analisarem se e quando haverá uma próxima mudança no nível da Selic.