Dólar pode voltar ao nível de R$ 5,50 com o anúncio do corte nos gastos públicos, diz economista-chefe da Nomad
Nas últimas semanas, o dólar à vista (USDBRL) atingiu o maior nível desde maio de 2020, no auge da pandemia. No ano, a divisa norte-americana já acumula alta de 20% sobre o real — a moeda emergente com pior desempenho.
Além da escalada da guerra entre Ucrânia e Rússia — que aumenta a procura por ativos de proteção — e a vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o maior peso para a forte valorização do dólar sobre o real é o cenário doméstico.
“O mercado começou a precificar que o governo não tem tanto compromisso com a saúde fiscal. A despesa está crescendo muito e o governo levantou a possibilidade de alocar despesas fora do arcabouço fiscal”, disse o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, em entrevista ao Money Times.
“Agora o mercado reconhece que precisa fazer alguma coisa e anunciou que iria fazer um pacote [de medidas de cortes nos gastos], mas não o entrega”, acrescenta Igliori. “O mercado vem testando o governo — que tenta recuperar a credibilidade.”
O mercado aguarda o pacote de corte nos gastos públicos a ser anunciado pelo governo nesta semana. As medidas inicialmente seriam divulgadas logo após o segundo turno das eleições municipais, no fim de outubro, e depois adiadas para após a reunião do G20 — que aconteceu entre os dias 18 e 19 de novembro.
“Estamos vivendo nas últimas semanas, momentos de grande incerteza, e eu diria de até ansiedade, à espera do que pode vir em termos de pacote de gastos”, afirmou Igliori.
Na última sexta-feira (22), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o pacote fiscal será anunciado até a próxima terça-feira (26).
Ele ainda adiantou o bloqueio adicional de R$ 6 bilhões no Orçamento de 2024, em meio aos esforços para o cumprimento da meta de resultado primário deste ano — que foi confirmada pelo Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias do 5º Bimestre.
Dólar abaixo de R$ 5,50 vem aí?
Para o economista-chefe da Nomad, o momento atual, de espera por medidas fiscais, é “crucial” para fazer o nível do dólar ou a dinâmica da divisa norte-americana “mudar bastante”.
Na visão de Igliori, o anúncio do pacote de cortes nos gastos públicos “pode ser um divisor de águas”.
“Se o pacote vir, de fato, com um corte significativo de cerca de R$ 70 bilhões — como o ‘ventilado’ nos últimos dias — e com uma mensagem forte de que o governo está apoiando o pacote, temos tudo para uma depreciação razoável do dólar”, disse Igliori.
“Com o anúncio, talvez gente consiga recuperar o nível de R$ 5,50 ou até um pouco mais para baixo.”
Ele lembra também que o dólar já acumula alta de quase 20% sobre o real, então “se as coisas forem bem, tem espaço para voltar um pouco”.
E se o pacote frustrar o mercado?
Para Danilo Igliori há também dois cenários negativos para o real.
O primeiro deles é se o pacote vir “meio desidratado” — ou seja, abaixo dos R$ 70 bilhões já precificado pelo mercado —“ainda mais depois de toda essa espera [pelo anúncio]”, afirmou o economista-chefe da Nomad.
O outro é, com o pacote for mais enxuto, ficar “claro” que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, “está sozinho nessa briga”.
“No fundo, é a reação ao anúncio e a percepção do que for anunciado, de que, de fato, o governo vai cumprir o que for divulgado [nesse pacote].”
O que esperar do dólar daqui para frente
O real, porém, não é a única moeda emergente pressionada pelo dólar. Um dos motivos para isso é o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
O presidente eleito já anunciou medidas como a política de proteção comercial — com imposição de tarifas em produtos importados —, e a redução de impostos, que aumenta o déficit fiscal e tende a gerar mais inflação.
Também há a perspectiva de menos espaço para o corte de juros nos Estados Unidos, segundo as últimas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed) — o Banco Central norte-americano —, Jerome Powell, em meio ao mercado de trabalho robusto e o crescimento da economia mesmo com inflação acima da meta.
“Se você combinar a história do combate à desinflação até o momento, como foi anunciado pelo Trump, a gente tem um cenário de dificuldades para trazer a inflação para baixo, portanto mais juros e mais competitividade da economia norte-americana, e tudo isso é do pró-dólar mais forte”, afirmou o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori.
“Mas o exterior não deve produzir tantos movimentos no curto prazo. O que, a gente tem que ficar atento agora, é com movimentos aqui dentro, particularmente com essa situação em relação à nossa política fiscal”, acrescentou.
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Além disso, “é sempre muito difícil dizer se o dólar está caro ou está barato. O que a gente sabe é que o dólar ganhou muito valor durante esse ano”, afirmou Igliori.
E, mesmo com o cenário de dólar próximo a R$ 6, a moeda continua a ser um ativo de proteção — ou seja, é sempre hora de investir em câmbio.
“O dólar tende a variar na direção contrária dos ativos brasileiros. Então, tem um grane efeito na diminuição de risco quando você coloca um pedaço da sua carteira, do seu patrimônio em ativos dolarizados”, disse o economista-chefe da Nomad.