Dólar no Brasil será mais influenciado por questões internas, diz analista da Empiricus Research
A variação do dólar contra o real (USDBRL) terá maior influência de questões do Brasil do que dos Estados Unidos, disse Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research no Giro do Mercado desta segunda-feira (25).
No centro do debate, está o corte de gastos previsto para ser anunciado até a terça-feira (26). A medida, segundo o analista, tende a gerar uma apreciação do real frente ao dólar. A expectativa do consenso do mercado é de que as medidas gerem uma economia de R$ 70 bilhões para os cofres públicos, sendo de R$ 30 bilhões só em 2025.
Analistas já vêm apontando o peso do cenário doméstico sobre a precificação da moeda, enquanto o governo tem adiado a divulgação do corte de gastos.
Também tem influenciado na alta da moeda a escalada da guerra entre Ucrânia e Rússia — que aumenta a procura por ativos de proteção — e a vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
Nas últimas semanas, o dólar à vista atingiu o maior nível desde maio de 2020, no auge da pandemia. No ano, a divisa norte-americana já acumula alta de 20% sobre o real — a moeda emergente com pior desempenho.
Escolhas de Trump animam mercado
Ainda durante o Giro do Mercado, Pacheco comentou sobre a escolha de Scott Bessent como novo secretário do Tesouro dos Estados Unidos. Segundo Trump, Scott é amplamente respeitado como um dos principais investidores internacionais e estrategistas geopolíticos e econômicos do mundo.
Alguns analistas já debatem sobre os primeiros dias de Bessent no cargo, que tendem a ser desafiadores, devido à pressão para abordar o limite da dívida federal e pelas promessas de campanha de Trump.
Segundo Pacheco, o ‘’plano das três flechas’’ de Bessent, inspirado no ex-ministro do Japão Shinzo Abe para revitalização econômica do país pode implicar em uma redução significativa no problema de déficit fiscal do país.
O plano das três flechas, é baseado em uma política ‘’3-3-3’’ a qual:
- Pretende reduzir o déficit fiscal para 3%
- Aumentar o crescimento para 3% PIB
- Aumentar a produção de barris de petróleo nos Estados Unidos para 3 milhões de barris por dia.
‘’ Hoje o déficit está rodando acima de 6%. Se você for olhar historicamente, só em período de guerra, período de grande crise, que a gente teve patamar desse tipo’’, disse Pacheco.
Para o analista, o crescimento de 3% do PIB é a mais crível das propostas, já que a economia tem estado próxima ao patamar proposto por Bessent.
Em contrapartida, o analista diz que o aumento da produção de barris de petróleo pode ser um pouco mais difícil, já que algumas empresas do setor têm focado na maior lucratividade e retorno de capital ao acionista do que investir em maiores níveis de produção.
‘’ Em algumas das maiores produtoras de petróleo dos Estados Unidos, já existem algumas estimativas que mostram que eles não podem aumentar muito a produção, porque se não o estoque reduziria muito rápido’’, explicou.
‘’Eu sei que o Trump prometeu reduzir a inflação via preço de petróleo, mas isso pode ser um problema para essas empresas’’, disse.