Dólar: Mercado perde a paciência com PEC da transição e moeda passa de R$ 5,50
O dólar à vista disparou mais de 2,5% nos primeiros minutos de pregão, renovando máximas a R$ 5,53, maior valor intradiário desde julho. É o mercado financeiro mostrando seu estresse com a PEC da transição do governo Lula, apresentada ontem à noite pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin.
Por volta das 10h15 (de Brasília), a moeda norte-americana avançava 1,4% frente ao real, cotada a R$ 5,48 para venda. O contrato futuro com vencimento em dezembro também subia 1,5%, ao redor de R$ 5,50.
A equipe de transição do novo governo apresentou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que mantém o Auxílio Brasil – que voltará a se chamar Bolsa Família -, em R$ 600 e ainda pagar um adicional de R$ 150 por crianças com até seis anos.
Mercado perde a paciência com transição
“Os planos contidos no texto, que se resumem na manutenção do Auxílio Brasil além da remoção permanente do teto de gastos, podem custar aos cofres públicos mais de R$ 175 bilhões já em 2023. O cenário contaminou o humor dos operadores de dólar”, comenta o operador da Commcor Corretora, Cleber Alessie.
O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, avalia que a sugestão de texto nasce com mais gordura do que o esperado. Porém, ele lembra que a estratégia do governo de transição é exatamente construir uma matéria conjuntamente com o Congresso.
“Por isso, vem sendo chamado de minuta. De todo modo, o texto sugere que seja excepcionalizado para sempre do teto [de gastos] os dispêndios com Bolsa Família. Apesar de a retórica ser que a excepcionalidade é para programas sociais, cerca de R$ 105 bilhões já estavam contemplados no Teto”, comenta. Segundo Sanchez, a PEC apresentada pede uma expansão dos gastos de cerca de R$ 2 trilhões em dez anos.
Para o sócio-analista da Ajax Asset, Rafael Passos, o texto apresentando tem baixa chance de ser aprovado, já que a tendência é que o Congresso avance com uma versão mais enxuta, garantindo a manutenção do programa social em R$ 600 para 2023, além da possibilidade de pagar o benefício de R$ 150 para crianças e reajuste do salário mínimo.
Dólar descolado do exterior
Enquanto aqui, a divisa estrangeira não para de ganhar tração; lá fora, o Dollar Index – índice que mede a força do dólar ante uma cesta de moedas – opera nos menores níveis desde agosto. Há pouco, o índice subia 0,7%, aos 107 pontos.
No mês, até o momento, o dólar tem valorização de 5,7%, devolvendo toda a perda de 4,3% no mês passado. O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, reforça que a PEC tem sido o principal motor do descolamento do mercado local do exterior, em meio à tentativa do governo eleito de “inchar cada vez mais a peça”, elevando o custo de transição.
“O formato não é bom e foge daquilo que muitos que votaram pela troca do mandato esperavam, pois se vendia um governo ‘pragmático’. O que aparentemente não está ocorrendo, especialmente na comparação com o mandato de 2002”, diz.
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