Dólar mais fraco ante o real está com os dias contados, segundo o economista André Galhardo

O dólar à vista (USDBRL) opera em baixa desde o início do ano. Entre janeiro e fevereiro, a moeda norte-americana registrou a maior sequência de desvalorização ante o real, com 12 dias de baixas consecutivas, saindo de R$ 6 para próximo a R$ 5,80.
Na sessão desta última segunda-feira (17), o dólar à vista fechou a R$ 5,7125. No acumulado do ano, a divisa acumula baixa de 7,57%.
Um dos motivos para essa forte desvalorização foi a reação “exagerada” dos investidores no mercado de câmbio na reta final de 2024. A expectativa de um novo governo Trump, nos Estados Unidos, e a incerteza sobre o cumprimento do arcabouço fiscal no cenário doméstico impulsionaram o dólar ao nível acima de R$ 6.
Essa, pelo menos, é a visão do economista e consultor da Remessa Online, André Galhardo. “Houve uma reação desproporcional no ano passado e agora o mercado desfez (essa forte valorização do dólar ante o real)”, afirma Galhardo em entrevista ao Money Times.
“É correto aplicar a maior parte desse movimento de desvalorização do dólar ante o real ao cenário externo, porque é o que mudou”, diz.
Segundo ele, o principal fator foi um início de mandato do presidente norte-americano Donald Trump “mais brando”, principalmente em relação às tarifas de importação.
Dólar vai cair, mas não muito
Na última segunda-feira (17), o Relatório Focus, que reúne projeção dos principais índices econômicos de economistas consultados pelo Banco Central, prevê que o dólar encerre 2025 a R$ 5,60.
Para Galhardo, ainda há espaço para mais queda do dólar ante o real, mas é “impossível” cravar uma cotação para a moeda norte-americana no patamar apontado pelo Focus.
“Quando a gente olha os dados, existe espaço para a moeda brasileira se valorizar no curto prazo, perto de R$ 5,50 e R$ 5,60”, afirma o economista. “Porém, eu não iria por essa linha agora, por mais que isso seja um ponto de partida. Hoje, o nível de incerteza está muito elevado”, acrescenta Galhardo.
Segundo o consultor da Remessa Online, olhando para o segundo trimestre, o dólar tende a recuperar as perdas.
“Eu continuo olhando para essa melhora do câmbio (a favor do real) com certo ceticismo”, diz. Isso porque, Galhardo considera que, com a taxação (dos Estados Unidos) sobre a China e, em algum momento, as medidas protecionistas vão contribuir para a reversão dessa tendência (de queda do dólar) do curto prazo.
“Quando eu olho para o segundo semestre, eu vejo um cenário mais incerto com a possibilidade de reversão da tendência atual e um movimento gradual, não tão agudo como o de dezembro, mas um movimento de desvalorização das moedas dos países emergentes, inclusive em relação à moeda brasileira”, afirma.
- LEIA MAIS: Brasil na mira das tarifas de Trump? Entenda os impactos dessa medida
O cenário doméstico e os impactos no câmbio
A disputa presidencial de 2026 tem ganhado os holofotes do mercado nos últimos dias.
Na semana passada, a pesquisa Datafolha mostrou que a aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva caiu 11 pontos em dois meses, uma marca inédita — de 35% para 24%. A reprovação também é recorde, passando de 34% a 41% — o pior nível de todos os mandatos do petista
Contudo, ainda é cedo para mensurar o impacto das eleições no câmbio, na visão de Galhardo.
“Quando eu olho para 2026, eu não diminuo a importância da disputa política. Mas, por exemplo, em 2020 foi uma surpresa que a disputa eleitoral tenha trazido tão pouco impacto. A gente imaginava um momento forte igual ao visto em 2002, quando o Lula venceu a primeira vez, mas isso não aconteceu”, afirma.
Por isso, Galhardo considera que o cenário internacional é o que deve ficar em primeiro plano em relação ao movimento cambial nos próximos meses.
“Nesse momento, as tensões comerciais devem impactar em maior medida o câmbio ao longo do segundo semestre e no ano que vem, que deve reverter essa tendência de valorização do real.”