Dólar supera R$ 6 e atinge maior cotação intradia desde a criação do real
O dólar à vista (USDBRL) acelerou o ritmo de ganhos da véspera e renovou o recorde intradia, superando a cotação de R$ 6 pela primeira vez na história.
Por volta de 13h (horário de Brasília), a moeda norte-americana atingiu R$ 6,0086 (+1,52%) — o maior valor nominal desde a criação do real, em 1994. A máxima intradia anterior era de R$ 5,9718, registrado em 14 de maio de 2020, no auge da pandemia da Covid-19.
Na véspera, a divisa norte-americana encerrou as negociações a R$ 5,9135 (+1,81%) — na máxima nominal histórica para o dólar desde a criação do real. O recorde anterior foi registrado em 13 de maio de 2020, quando o dólar fechou a R$ 5,9007.
A disparada da moeda acontece após o anúncio do pacote fiscal, que incluiu a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil mensais — uma das promessas da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ontem (27), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou o corte de e R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos, sendo R$ 30,6 bilhões em 2025 e R$ 41,3 bilhões em 2026. O impacto estimado até 2030 é de R$ 327 bilhões.
Segundo o chefe da pasta econômica, o impacto da isenção do IR será “neutralizado” por um aumento na taxação de salários acima de R$ 50 mil — o que tem sido considerado “insuficiente” pelo mercado.
Isso porque a isenção do IR, estimada em R$ 50 bilhões anuais, supera os cortes de gastos previstos, gerando dúvidas sobre o real compromisso do governo com o equilíbrio orçamentário.
Para a economista-chefe da Ouribank, Cristiane Quartaroli, o anúncio do corte de impostos sobre a renda “é bastante ruim nesse momento em que todo mundo aguarda o relatório com um anúncio de corte de gastos. O que vem é justamente o contrário, com redução de arrecadação”.
Na mesma linha, o analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima, afirmou que a medida sobre o IR supera os cortes de gastos previstos, gerando dúvidas sobre o real compromisso do governo com o equilíbrio orçamentário.
“O mercado esperava medidas de austeridade para reforçar o arcabouço fiscal, mas o aumento das despesas contraria essa expectativa, pressionando juros futuros e ampliando o risco fiscal. Sem sinais claros de compensação, a volatilidade cambial deve persistir, afastando investidores, afetando custos e a confiança na economia brasileira”, disse.
Mas, na avaliação do diretor de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a disparada do dólar é uma reação exagerada do mercado.
“O mercado não gostou [do pacote fiscal]. Os juros prefixados estão subindo, o dólar está disparando e a bolsa está caindo, mas não achei o pacote ruim como estão precificando hoje”, disse Weigt em entrevista ao Money Times.
O que pode frear o dólar?
Para Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, o movimento “muito intenso” do dólar não deve ser sustentável a longo prazo.
“O dólar pode continuar estressado por algum tempo, próximo ou acima de R$ 6, mas não por um longo período de tempo”, afirma.
Segundo ela, o desempenho do dólar começa a depender “muito das próximas sinalizações e, principalmente, do esforço que o governo vai fazer para que as medidas não sejam ainda mais desidratadas no Congresso”.
“Para frear a alta [no câmbio], o governo precisa reiterar o compromisso em manter as medidas como elas estão, sem desidratá-las ainda mais, e seguir na discussão de sustentabilidade fiscal, além da própria política monetária — com a continuidade no ritmo de altas nas taxas de juros”, acrescenta Zogbi.
No ano, o dólar já acumula alta de quase 24% ante o real.