Dólar se afasta dos recordes e cai a R$ 6,04 com Lula e tramitação do pacote fiscal no Congresso
Nesta terça-feira (10), o dólar à vista (USDBRL) seguiu cotado acima de R$ 6, mas se afastou dos recordes com os investidores dividindo as atenções entre o quadro de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode desacelerar a tramitação do pacote fiscal no Congresso, e a reação à inflação de novembro.
Hoje também foi o primeiro dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, o último encontro sob a presidência de Roberto Campos Neto.
Na comparação com o real, a divisa norte-americana encerrou as negociações a R$ 6,0480 (-0,57%). Na véspera, a moeda alcançou o maior nominal de fechamento da história, a R$ 6,0829.
O desempenho destoou da tendência vista no exterior. O indicador DXY, que compara o dólar a uma cesta de seis divisas globais, subiu aproximadamente 0,26%, aos 106,404 pontos.
O que mexeu com o dólar hoje?
No cenário doméstico, o dólar à vista perdeu força com rumores de que o governo federal deve liberar R$ 6,4 bilhões em emendas a parlamentares — o que levaria a um potencial avanço de pautas no Congresso, como o pacote fiscal.
O mercado também monitorou o efeito do quadro de saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a tramitação das medidas.
O chefe do Executivo passou por uma cirurgia de emergência após sentir fortes dores de cabeças na noite de segunda-feira (9) e segue internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital Sírio Libanês, em São Paulo. O quadro de saúde é estável.
A jornalistas, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o fato de o presidente estar hospitalizado não impede a aprovação do pacote fiscal pelo Congresso Nacional ainda este ano.
Padilha contou que antes de ir ao hospital, Lula ouviu dos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o compromisso de votar as medidas que reforçam o marco fiscal ainda este ano, em uma reunião no Palácio do Planalto.
Em segundo plano, o mercado reagiu ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país. O índice subiu 0,39% em novembro — apontando para uma desaceleração em relação à alta de 0,56% apurada em outubro. O resultado ficou levemente acima do esperado pelo mercado, de 0,36%.
O IPCA também acelerou a alta acumulada em 12 meses para 4,87%, de 4,76% no mês anterior — acima do teto da meta de inflação.
Na avaliação do economista sênior do Inter, André Valério, o resultado do IPCA não justifica uma aceleração do ritmo de alta da Selic. No entanto, a deterioração nas expectativas de inflação e a recente desvalorização cambial devem pesar na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de amanhã (11).
A expectativa é de que o Copom eleve a taxa básica de juros em de 0,75 ponto percentual, a 12,00% ao ano. Contudo, as apostas de alta de 1 ponto percentual na Selic se mantiveram majoritárias.
Nos Estados Unidos, o mercado continuou à espera de novos dados de inflação.
O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de novembro deve mostrar um leve aumento nas pressões de preços amanhã (11). Os economistas consultados pela Dow Jones esperam um aumento mensal e anual de 0,3% e 2,7%, respectivamente. Isso seria um aumento de 0,2% e 2,6%, respectivamente, do mês anterior.
Embora o CPI não seja a principal referência de inflação para Federal Reserve (Fed), o indicador deve calibrar as expectativas para a reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que acontece entre os dias 17 e 18 de dezembro.
Hoje (10), os traders veem 86,1% de chance de o Fed cortar os juros em 25 pontos-base, para a faixa de 4,25% a 4,50% na próxima reunião de política monetária — que acontece entre os dias 17 e 18 de dezembro.
Em linhas gerais, quanto mais o Fed reduzir os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos atrativo à medida que os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) caem, gerando apetite por risco em outros mercados com juros mais altos.
*Com informações de Reuters