O que explica a maior cotação do dólar em quase um mês após corte na Selic?
O dólar à vista fechou na contramão do exterior e saltou frente ao real, chegando ao maior valor em quase um mês. Com isso, a divisa norte-americana avançou 1,8%, perto de R$ 4,90 para venda.
Enquanto os índices da Bolsa brasileira sobem animados com o corte da taxa básica de juros (Selic), passando de 13,75% para 13,25% ao ano, a taxa de câmbio exibiu forte estresse voltando aos níveis de R$ 4,90.
Depois de cair por dois meses seguidos, somando perdas de 6,6%, o dólar acumula alta de 4% em apenas três dias. Quais são os motivos para a nova arrancada da moeda?
Queda da Selic e o “carry trade”
Se ontem, o Banco Central brasileiro anunciou o ciclo de corte da Selic após três anos, na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) elevou a taxa de juros nos Estados Unidos, para a faixa entre 5,25% e 5,50%. Mesmo que o movimento de alta esteja perto do fim, como preveem analistas e economistas, o mercado brasileiro fica menos atrativo.
O analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, comenta que investidores estão se posicionando diante a cautela com o mercado global e local. Ele observa que a atratividade dos títulos de renda fixa no Brasil cai com juros mais baixos, reduzindo o apetite do investidor estrangeiro pelos ativos do país.
“A expectativa é de que haja um fluxo estrangeiro menor no país por conta da queda da taxa de juros, refletindo na menor oferta de dólares e enfraquecimento do real“, diz Mattos.
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Contudo, o estrategista-chefe do banco Mizuho, Luciano Rostagno, acrescenta que o corte da Selic em 0,50 ponto percentual (p.p.), mais acentuado do que boa parte dos mercados esperava, colabora para a desvalorização da moeda local, uma vez que torna o apelo de diferencial de juros do câmbio menos atraente.
Desta forma, o nível alto das taxas torna o real interessante para uso em estratégias de “carry trade” (diferencial de juros), que consistem na tomada de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em mercado mais rentável. Quanto mais a Selic cair, mais o Brasil perderá vantagem no chamado “carry trade”.
Aversão global ao risco assusta o dólar
Apesar da leve queda do Dollar Index (DXY) no dia, aos 102,4 pontos, a aversão global ao risco tomou conta no exterior em meio à divulgação de dados de atividade.
“Dados econômicos piores do que o esperado na zona do euro e informações sobre mercado imobiliário chinês ajudam a elevar preocupação com o crescimento econômico mundial, com moedas emergentes perdendo frente ao dólar”, comentou Rostagno.
Amanhã (04), um importante indicador pode mexer ainda mais com os mercados globais, já que sai o relatório do mercado de trabalho (payroll) de julho dos Estados Unidos.
*Com Reuters