Dólar forte não preocupa Washington e Acordo de Plaza 2.0 é improvável
O fortalecimento do dólar diante do compromisso do Federal Reserve em combater a inflação penaliza as moedas ao redor do mundo. Enquanto o euro é cotado abaixo da paridade de US$ 1 e a libra esterlina se aproxima dessa marca, o yuan alcançou o nível novo recorde histórico, acima da marca de 7,20.
O real não escapa ileso desse movimento generalizado de alta da moeda norte-americana e revisita as máximas em dois meses, testando a faixa de R$ 5,40. Esse movimento implacável do dólar esquenta o debate no mercado financeiro em relação a uma versão 2.0 do famoso Acordo de Plaza.
Em 1985, as preocupações com o impacto de um dólar em alta fizeram com que Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, França e Japão concordassem em intervir conjuntamente no mercado de câmbio para enfraquecer o dólar vendendo a moeda globalmente.
Porém, quais são as chances de um novo pacto no mesmo estilo agora?
“O governo dos EUA não está mostrando nenhuma preocupação com o dólar forte”, resume a equipe de estratégia cambial do ING, em relatório.
Para os estrategistas Chris Turner, Frantisek Taborsky e Francesco Pesole, é inútil resistir à força do dólar. “A moeda dos EUA está claramente em um rali muito forte e semelhante ao cenário macroeconômico do início dos anos 1980”, observam.
Qualquer semelhança é mera coincidência
E foi exatamente nesse período que o Acordo de Plaza surgiu. Naquela época, o Fed e a Casa Branca também tentavam domar a inflação e o aperto agressivo das condições financeiras aumentava os ventos contrários enfrentados pela economia global.
Porém, agora, não há nenhum sinal de que o Fed irá afrouxar o ritmo agressivo (“hawkish”) de alta da taxa de juros nem de Washington mostrando qualquer preocupação com o dólar forte. Com isso, a tendência atual de alta do dólar deve se estender.
“As condições para um acordo semelhante [ao de Plaza] não estão postas”, comentam os estrategistas da BCA Research. Segundo a consultoria canadense, ainda não há argumentos a favor de uma moeda mais fraca.
Isso porque a inflação é atualmente o inimigo número um para os EUA. Nesse front, um dólar mais forte ajuda a aliviar as pressões inflacionárias domésticas ao baratear as importações. Ao mesmo tempo, a economia chinesa enfrenta pressões deflacionárias, o que reduz o interesse de Pequim em buscar um yuan mais forte.
Os exportadores do resto do mundo também se beneficiam de uma moeda doméstica mais fraca em relação ao dólar. “Além disso, embora o crescimento econômico dos EUA esteja desacelerando, o mercado de trabalho dos EUA continua resiliente”, enumera a BCA.
Portanto, os diferenciais das taxas de juros no restante do mundo em relação aos EUA, a elevada aversão ao risco e os receios em relação a uma recessão global tendem a continuar sustentando o dólar no curto prazo.
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