Dólar sobe após salto da inflação nos EUA, mas expectativas de Copom mais duro limitam ganhos
O dólar (USDBLR) registrou leve alta contra o real nesta quarta-feira, em linha com a força internacional da moeda norte-americana após dados de inflação dos Estados Unidos, mas expectativas de juros ainda mais altos no Brasil limitaram os ganhos.
A moeda norte-americana spot teve valorização de 0,21%, a 5,5024 reais na venda. O dólar futuro, cujas negociações vão além das 17h (de Brasília), tinha alta de 0,34% nesta quarta-feira, a 5,5175 reais.
Apesar da movimentação desta sessão, o real ainda apresentou desempenho superior a vários de seus pares emergentes, e, mais cedo, o dólar chegou a cair 1% frente à moeda local, indo a 5,4362 reais na venda na mínima do dia.
Segundo Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, isso se deve a dados de inflação domésticos que surpreenderam para cima.
O IBGE informou pela manhã que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 1,25% em outubro, após alta de 1,16% no mês anterior, alcançando a maior variação para o mês desde 2002 (1,31%).
Em 12 meses, a alta foi a 10,67%, de 10,25% em setembro, resultado mais forte desde janeiro de 2016 (+10,71%). A leitura veio acima da expectativa de economistas consultados pela Reuters, que esperavam avanço de 1,05% na base mensal e de 10,45% em 12 meses.
Os dados, disse Argenta, apontam para inflação “mais preocupante”, puxada pelos núcleos e não por fatores pontuais e temporários, o que elevou as apostas de participantes do mercado em aceleração do atual ciclo de aperto monetário do Banco Central.
Atualmente, a taxa Selic está em 7,75% ao ano, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC promover elevação de 150 pontos-base em seu último encontro.
“Voltando para a teoria econômica, juros mais altos significam demanda maior por nossa moeda”, disse Argenta.
Enquanto isso, peso mexicano, lira turca e rand sul-africano, pares emergentes do real, despencavam frente ao dólar nesta quarta-feira, com este último perdendo quase 3%.
A moeda norte-americana ganhava força globalmente, com seu índice frente a seis rivais fortes disparando 0,93%, a 94,847, após dados de inflação mais fortes do que o esperado nos Estados Unidos.
Segundo o Departamento do Trabalho do país, o índice de preços ao consumidor norte-americano subiu 0,9% no mês passado, após alta de 0,4% em setembro.
Nos 12 meses até outubro, o índice aumentou 6,2%, o maior avanço anual desde novembro de 1990, após salto de 5,4% em setembro.
A percepção de investidores é de que a inflação tem persistido mais do que o esperado na maior economia do mundo, em meio a gargalos na cadeia de abastecimento e escassez de mão de obra, e isso poderia elevar a pressão para que o Federal Reserve, o banco central dos EUA, aumente os custos dos empréstimos mais cedo do que o esperado.
Juros mais altos na maior economia do mundo tenderiam a atrair recursos para o país, impulsionando o dólar.
Além de avaliar perspectivas para a política monetária, investidores repercutiram nesta sessão o noticiário em torno da PEC dos Precatórios, que foi aprovada no final da terça-feira em segundo turno pelo plenário da Câmara e agora terá de ser apreciada pelo Senado.
“Algumas pessoas a enxergam como, dos males, o menor, mas não é, de forma alguma, algo positivo”, disse Argenta sobre a PEC dos Precatórios, que altera regras do teto de gastos, considerado importante âncora fiscal do país. Segundo ela, investidores estrangeiros enxergam a proposta como um “calote, praticamente”.
A PEC é vista pelo governo de Jair Bolsonaro como meio para abrir espaço fiscal que permitiria o pagamento de Auxílio Brasil, benefício que substituirá o Bolsa Família, de pelo menos 400 reais por família em 2022, ano eleitoral.