Dólar fecha 1ª semana do novo governo em baixa após tom conciliador de Lula e dados dos EUA
O dólar caiu mais de 2% frente ao real nesta sexta-feira, após dados de emprego norte-americanos em linha com o esperado e tom conciliador do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua primeira reunião ministerial, o que levou a moeda norte-americana a reverter completamente os ganhos que acumulava na primeira semana do novo governo.
A moeda norte-americana à vista fechou em queda de 2,17%, a 5,2364 reais na venda, maior desvalorização percentual diária desde 31 de outubro (-2,57%) e o patamar de encerramento mais baixo desde 26 de dezembro (5,2105).
Somado à queda de 1,81% do dólar na última sessão, o tombo desta sexta-feira deixou a moeda norte-americana 0,79% abaixo do patamar de fechamento da semana passada, de 5,2779 reais, compensando o salto de mais de 3% registrado no acumulado dos dois primeiros dias úteis do novo governo.
“Estamos vendo esse desmonte parcial de posições compradas em dólar no começo do ano, e a reunião ministerial de hoje sem dúvida contribuiu para estender o alívio local já iniciado ontem”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Em Brasília, Lula abriu o encontro com ministros afirmando que o compromisso de seu governo é unificar o país, e não acabar com as divergências, e ressaltando a importância da boa relação do Executivo com o Congresso. Ele também disse que é possível a economia crescer com responsabilidade.
Seu tom aparentemente mais conciliador veio depois que vários de seus ministros apaziguaram os mercados nesta semana com sinalizações de que o governo não alterará reformas estruturais e outras medidas de gestões anteriores.
“Me parece que a reação inicial do mercado (ao novo governo) foi exagerada, em um nítido movimento de cautela, mas que não se apoiou depois; acredito que o novo governo está ‘tentando falar a língua do mercado’, embora críticas sobre o teto de gastos acabem contribuindo para um certo ceticismo dos investidores”, completou Bergallo.
Para além do tom moderado adotado por Lula, Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX, disse que a reunião ministerial desta sexta-feira mostrou os “esforços do novo governo Lula para alinhar a comunicação entre seus ministros, seu governo, e evitar que haja ruídos que gerem volatilidade desnecessária”, o que colaborou para o tombo do dólar.
O cenário internacional também jogou a favor do real, depois que o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos informou que a criação de vagas fora do setor agrícola do país totalizou 223 mil no mês passado, em linha com o esperado pelos mercados e abaixo do dado de novembro. Economistas consultados pela Reuters previam criação de 200 mil postos de trabalho, com as estimativas variando de 130 mil a 350 mil.
“Para mim, o ‘payroll’ anunciado nos últimos meses mostra que o trabalho nos EUA ainda está aquecido, mas dá sinais de desaceleração, que são importantes e suficientes para que se possa repensar a alta dos juros, embora já saibamos que o ciclo contracionista seguirá por mais tempo”, disse Carlos Vaz, CEO da Conti Capital.
“Em resumo, isso quer dizer que é um dado bem-vindo para o combate à inflação, e bastante animador para quem deseja ver boas condições do mercado de trabalho, apesar do enfraquecimento da atividade econômica.”
Alimentando ainda mais o apetite de investidores globais por risco, a atividade de serviços dos Estados Unidos contraiu pela primeira vez em mais de dois anos e meio em dezembro, em meio ao enfraquecimento da demanda, enquanto o ritmo de aumento dos preços pagos pelas empresas diminuiu consideravelmente, oferecendo mais evidências de que a inflação está arrefecendo.
Quanto mais agressivo é o Federal Reserve, o banco central dos EUA, em seu ciclo de altas de juros, mais o dólar tende a se beneficiar globalmente, à medida que investidores redirecionam recursos para o mercado de renda fixa norte-americano. Mas o contrário também vale, de forma que o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes caía mais de 1% nesta tarde, abrindo espaço para a valorização de outras moedas.