Opinião

Dólar: estresse passageiro não plausível no Brasil. Causa é especulação oportuna

08 mar 2019, 7:29 - atualizado em 08 mar 2019, 7:29

Por Sidnei Moura Nehme, economista e diretor executivo da NGO

Em nossa percepção ocorrem neste momento fatos isolados no Brasil que habilmente são tratados como sinérgicos e com isto acabam provocando movimentos atípicos no mercado financeiro, e, então, busca-se neste ou naquele fato aqui ou acolá “fundamentos” para justificar as repercussões.

Em outras palavras, ainda que pareçam ser movimentos acreditados, no fundo ocorre especulação pontual para dar aos segmentos do nosso mercado financeiro certo dinamismo e evitar que haja queda de volumes de negócios, visto que, na realidade, o momento sugere muito mais observação do que ação.

O dólar se valoriza no exterior, mas isto já aconteceu inúmeras vezes, da mesma forma que se desvaloriza, e com grande frequência não causa repercussões imediatas no comportamento do real, que na realidade não é uma moeda conversível, mas sim com preço estruturalmente formado a partir de inúmeros vetores, neste momento com peso maior aos nacionais, portanto internos, e menos nos externos.

O país tem um quadro bastante tranquilo e favorável por ser emergente que o blinda contra maiores impactos, pois tem reservas cambiais suficientes para atender demanda física e déficit em transações correntes equilibrados, e, como sabido a taxa do dólar é predominantemente formada pelo mercado futuro de dólar que se substancia em perspectivas.

E quais são as perspectivas de momento?

Todo o foco está na trajetória da Reforma da Previdência no Congresso Nacional, que efetivamente começará a se ocupar com a matéria agora, após o Carnaval, que se constitui no marco pontual de início das atividades anuais do país.

Não se pode afirmar que há forte oposição à Reforma da Previdência com conhecimento de sua dimensão, sendo que no momento há pressupostos e convicções de que opositores corporativistas e ideológicos deverão imprimir forte movimento reacionário a grande parte das proposituras, o que expõe a relevante propositura a eventual desidratação e diluição no seu conteúdo, e que deve prolongar as discussões e debates até o segundo semestre.

Este é o “status quo” em torno da matéria, que, no nosso entender, sugere uma relativa estagnação nas tendências, mantendo-se quase tudo nos níveis atuais.

O país não registra fluxos positivos de investimentos estrangeiros, visto que há uma retração forte por parte dos investidores até que se vislumbre o desenho final da Reforma e a sua abrangência, já que é da mais alta relevância para o equacionamento da crise fiscal que assola o país e permitir que o governo implemente efetivamente seu plano de governança.

Não há como se prever neste momento, além das supostas dificuldades, qual vai ser o formato final da Reforma da Previdência.

Desta forma, nesta fase em que o país discute a superação dos seus “problemas intestinos” e este fato se torna no seu foco principal, fatores externos têm peso relativo, porém são acompanhados como negociações China-USA, problemas da União Europeia, Brexit, etc…

Lamentavelmente, no Brasil há uma total desordem e desta forma quando muitos setores aparentam se ocupar em desgastar a figura do Presidente, dando repercussão demasiada em letras garrafais para suas ações nas redes sociais, acaba havendo certa contaminação dos fatos que são conduzidos a irradiar pessimismo sobre as probabilidades de aprovação da Reforma, na maioria das vezes sem que haja sinergia entre o folclórico dos embates das redes sociais com as matérias de real valia para o país.

Busca-se ofuscar o otimismo, agora mais sensato e menos exuberante como deve ser, e naturalmente ocorrem movimentos especulativos que certamente são percebidos pela mídia, mas não postos em suas considerações por ser tema delicado, e então se tem o dólar sendo apreciado com maior intensidade e a Bovespa em queda.

O bom senso indica, num cenário que sugere e sugestiona sensatez, que o preço da moeda americana permanecesse estável com pequena volatilidade e a Bovespa sustentasse o nível alcançado em que se revelou impotente para atingir os 100 mil.

Certamente, ficaria um “mercado sem graça” e provavelmente por um período razoável.

Para que isto não ocorra, ocorrem os movimentos tanto na Bovespa quanto no preço do dólar atípicos e alheios à realidade, e a tudo se culpa o novo governo, que acabou por completar 60 dias.

Nenhuma surpresa, acreditamos que acontecerá o recuo do preço do dólar ao nível de R$ 3,75, com discreta volatilidade, e a Bovespa ficando nas proximidades dos 98 mil pontos.

Isto até que se tenha um melhor diagnóstico sobre as perspectivas para a Reforma da Previdência, e isto poderá ocorrer somente em maio, e os investidores estrangeiros decidirem deslocar suas aplicações para a Bovespa.

No mais o país segue com inflação baixa decorrente da inércia da atividade econômica, PIB sendo revisado para menor e possibilidade de redução da taxa SELIC, face ao tempo que decorrerá até que se tenha visão efetiva do sucesso ou insucesso da Reforma.

Mais uma vez salientamos, o cenário permanece binário, não há fundamentos para tendências sustentáveis.

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