Câmbio

Dólar está exagerado e juros das NTN-B são oportunidade, diz economista

22 maio 2018, 13:18 - atualizado em 22 maio 2018, 13:22

Por Angelo Pavini, da Arena do Pavini – O dólar tem motivos para subir, mas a alta está sendo exagerada diante dos fundamentos da economia brasileira e em algum momento a moeda americana vai se ajustar, acredita Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec Rio. Ele espera que o dólar e a alta dos juros provoquem perdas nos investimentos em fundos de renda fixa mais longos e multimercados e em papéis do Tesouro Direto, assustando os investidores.

Mas a recomendação para esses investidores é que mantenham a calma pois parte dos excessos do mercado tendem a ser corrigidos e as perdas podem diminuir. Além disso, lembra o economista, quem aplicou em um título com uma boa taxa de juros vai receber essa taxa se ficar com o papel até o resgate. Apenas se resgatar antes é que terá o prejuízo. Já para quem tem caixa para aplicar, Espirito Santo diz que é hora de aproveitar essa alta dos juros dos papéis do Tesouro, especialmente os corrigidos pela inflação. E até de colocar um pé na bolsa, para quem está fora, depois das perdas recentes. Já a estrategista da Garin Investimentos, Lika Takahashi, vê muita incerteza pela frente e recomenda ao investidor reforçar a diversificação fora da bolsa e a liquidez para evitar surpresas ou aproveitar oportunidades no futuro.

Espírito Santo nunca compartilhou do otimismo exagerado que o mercado demonstrou neste início de ano, quando se falava em Índice Bovespa (IBOV) em 100 mil pontos ou até 140 mil pontos e um dólar perto de R$ 3,00. “Era um cenário que o mercado construiu com a visão de que teríamos um presidente reformista eleito este ano e um cenário externo tranquilo”, diz Espírito Santo, que sempre imaginou um Ibovespa batendo no máximo em 88 mil pontos, como de fato ocorreu. “É um preço bastante razoável diante das  incertezas políticas e nossa situação fiscal tão delicada”, diz.

Ele lembra que a relação da dívida pública brasileira caminha para 80% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, um nível bastante perigoso, que dificulta uma queda maior dos juros mais longos da economia e que tende a crescer com o déficit primário ainda bastante elevado. “É uma situação fiscal muito ruim e não vejo até aonde a vista alcança uma solução para isso com o que temos de quadro de pré-campanha desenhado”, afirma.

Para o economista, o resultado da Petrobras ajudou a melhorar o ânimo do mercado nas últimas semanas, mas o mercado já está numa faixa de preço que ele considera justa. Já o dólar está exagerado na faixa de R$ 3,70. “Não vejo hoje nenhum motivo concreto para o real se desvalorizar nessa magnitude”, diz Espírito Santo, lembrando que o balanço de pagamentos do Brasil está com um déficit pequeno e as reservas internacionais são confortáveis, situação bem melhor que a da Argentina, por exemplo. “Estamos juntando o mau humor internacional com as atitudes polêmicas do presidente americano Donald Trump, com a expectativa de alta dos juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) e isso criou uma tempestade perfeita”, explica. “Mas minha percepção é que o dólar está exagerado e não há sinais de grandes saídas de capital”, afirma.

Ele acredita que o grande fator de risco para os mercados brasileiros é a alta da inflação e dos juros nos Estados Unidos. Por isso, os juros de 10 anos são um importante referencial para o investidor, ao indicar se o Federal Reserve vai acelerar a alta da taxa básica. “Se o juro de 10 anos se firmar acima de  3%, aí vamos ter um possível estresse com razão”, diz. “E aí que não daria para o Ibovespa chegar a 120 mil pontos, se o maior investidor é o externo”, lembra.

Juro longo sobe e deve trazer perdas momentâneas em títulos e fundos 

Já nos juros locais, Espirito Santo chama a atenção para as taxas mais longas dos papéis do governo federal, as NTN-B, ou Tesouro IPCA+, que não caem abaixo de 5% ao ano, apesar da queda da Selic para 6,5%. “Isso é reflexo do cenário fiscal muito complicado e da dívida caminhando para 80% do PIB, que não permitem que o juro longo caia”, diz. “Com a alta dos juros lá fora também, é normal o juro longo subir mais, como agora, batendo mais de 5,5% ao ano além da inflação, e isso vai dar uma assustada nas pessoas que têm papéis antigos, que vão ter perdas”, alerta. “E isso vai ter impacto também em fundos que aplicam em papéis de longo prazo, mas as pessoas vão ter de manter o sangue frio e esperar a poeira baixar antes de tomar alguma decisão para não perder dinheiro”, diz.

Dólar: não adianta se desesperar; dólar deve voltar

Mesmo com relação ao dólar, Espirito Santo diz que não adianta se desesperar. “Não há o que fazer, e tomar grandes posições agora pode ser perigoso”, alerta. Ele lembra que, em 30 anos de mercado, já viu o dólar disparar muitas vezes, mas é preciso um bom motivo para ele se manter em alta. “Dólar só tem motivo para estressar se o país tem balanço de pagamento em risco ou um ataque especulativo, como na Argentina, onde tem motivo para estresse”, diz. “Sofremos um pouco mais porque nosso mercado é mais líquido e é mais fácil tirar dinheiro daqui, e parte do dinheiro que entrou para a bolsa está saindo”, explica. “Mas não vejo pessoas vendendo ações e indo embora, e sim se protegendo, por isso acho que a alta é conjuntural e nos próximos meses o dólar deve voltar, talvez não para R$ 3,15 como no começo do ano, mas para perto de R$ 3,50 no médio prazo”.

Nem mar de rosas, nem inferno

A grande sugestão para o investidor é não entrar no estresse, diz. As pessoas ficam nervosas com o dólar ou mesmo com perdas em fundos de renda fixa ou multimercados pela alta dos juros, mas são situações que tende a se ajustar depois.  “Assim como não achava que o cenário deste início de ano devia ser tão cor de rosa, agora também não vejo um inferno”, resume. Para ele, não é momento de mudar posições por causa de perdas. “Temos que ver o que é realmente mudança estrutural e lembrar que ainda teremos a campanha presidencial que exigirá que repensemos tudo de novo”, diz.

Hora de aproveitar os juros dos títulos públicos

Para ele, seria até o momento de o investidor com caixa aproveitar as taxas mais altas dos papéis públicos, acima de 5,5% ao ano mais IPCA para 2035. “A inflação está muito comportada, o cenário está muito benigno para os preços, e mesmo essa alta do dólar não seria tão ruim, pois o BC está mesmo querendo levar o IPCA para mais perto da meta de 4,5%”, diz.

Esse cenário permanece até se definir o ambiente eleitoral, que pode voltar a estressar mais os mercados. “Mas isso deve acontecer daqui dois ou três meses apenas”, acredita.

Carteira ideal no momento

Para ele, uma boa carteira teria uns 60% a 70% em papéis de inflação e 20% em multimercados bem geridos. E uns 10% para colocar um pé na bolsa, que ainda tem coisas interessantes, acredita Espirito Santo. “Temos setores que sofreram muito, como Educação, e outros que se beneficiam da retomada da economia, como varejo e consumo”, diz.

Volatilidade deve continuar até o fim do ano

A instabilidade dos mercados voltou com força este ano, depois de um período de tranquilidade que durou quase um ano, lembra Lika Takahashi, estrategista-chefe da Garín Investimentos. Uma tranquilidade até exagerada, que parecia ignorar os vários riscos que o Brasil corria, constata a estrategista. “Hoje, o que temos é mais consistente tanto com o cenário externo quanto interno”, diz.

O que assusta mais nos Estados Unidos ainda é o risco de uma guerra comercial, avalia Lika, mas as negociações têm revelado uma estratégia de “morde e assopra” que indica que ninguém quer realmente um confronto. “Devem sair alguns acordos comerciais para Trump mostrar como vitórias, mas sem um desastre”, explica. “Mas enquanto isso os mercados sempre reagem com excesso”, afirma.

No Brasil, a economia segue patinando, com o consumo das famílias mais devagar do que se estava prevendo. E há ainda a volatilidade forte do dólar, refletindo o fortalecimento da moeda americana lá fora. Ou seja, ainda não está nos preços o impacto da eleição presidencial no Brasil.

Cenário político incerto

Nesse aspecto, há outro risco, que é o jogo ainda muito em aberto, que só deve se definir com o início do horário obrigatório em rádio e TV e ainda a questão se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será candidato ou não e, se ele não for, quem herdará seus votos. “E há ainda os candidatos que não se faz ideia do que eles pensam, que não se posicionam em nada e os que, se sabemos o que pensam, nunca tiveram experiência, nunca governaram”, lembra.

Hora de manter mais dinheiro em caixa

Com esse ambiente de tanta incerteza, a recomendação de Lika é reduzir o risco e diversificar, mesmo fora da bolsa. “Um pouco de dinheiro em caixa não faz mal, pois o investidor pode aproveitar uma oportunidade ou então vai pelo menos deixar de perder”, diz. Outra opção podem ser ações de bons pagadores de dividendos, já que com o juro básico em 6,5% ao ano, um retorno em dividendos de 5% a 6% ao ano já paga o CDI.

Para Lika, porém, a eleição presidencial deve ser o grande definidor da bolsa no próximos meses. “Lá fora, o pessoal ainda vai continuar preocupado com inflação, com o que se passa na cabeça do Trump, mas no Brasil a atenção vai estar na eleição, e talvez a economia talvez fique em segundo plano”, avalia. “O que o mercado quer é um candidato que garanta as reformas.” Além disso, porém, o sucesso do próximo presidente nas reformas vai depender de sua capacidade de negociação com o próximo Congresso. “Se o eleito passar com 20% de votos para o segundo turno, não se sabe se ele terá força no Congresso para aprovar as reformas”, teme Lika.

Por tudo isso, a estrategista diz que é bom o investidor ter um pouco de liquidez. “O mercado está mais cauteloso, com razão, e vai continuar dependendo muito do cenário local.”

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