Dólar esboça queda com exterior e dados de varejo, mas instabilidade persiste
O dólar reduzia a queda ante o real nesta quarta-feira, em meio a mais um pregão instável no qual replicava a volatilidade vista nas várias últimas sessões e monitorava a perda de fôlego em ativos de risco no exterior.
Às 12h45, o dólar recuava 0,35%, a 5,3669 reais na venda. A moeda abriu em queda de cerca de 0,6%, zerou o movimento, foi à máxima do dia ao subir 0,17%, tornou a cair até a mínima do dia (queda de 1,24%) antes de desacelerar as perdas.
“O BC deveria prestar atenção. A volatilidade intradiária nesse tamanho fez com que os robôs de opções de dólar parassem de colocar preço no mercado. Volatilidade é custo Brasil“, disse o gestor Alfredo Menezes, da Armor Capital.
No começo do mês, o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, afirmou que a autoridade monetária estava tentando identificar a causa do aumento elevado da volatilidade do câmbio e se ela era eficiente ou não, reconhecendo que esse movimento destoava do nível de volatilidade visto em outros países emergentes.
Há debates no mercado sobre a causa principal para isso, com alguns analistas lembrando a incerteza sobre o “lower bound” e eventuais influências suas no dólar.
O “lower bound” é o patamar de juros abaixo do qual a política monetária perderia eficácia ao estimular a economia. No fim de junho, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que o BC entendia o “lower bound” como algo muito dinâmico. A autoridade monetária tem sinalizado que o próximo movimento na Selic será um corte residual.
Em apresentação nesta quarta, Campos Neto afirmou que os fluxos de capitais tendem a se acomodar e melhorar as contas externas do país. Mais fluxo é mais oferta de dólar, o que tenderia a baixar o preço da moeda. Em 2020, contudo, o fluxo cambial ao Brasil segue negativo.
No geral, o sentimento seguia fragilizado pelo ressurgimento de casos de Covid-19 no mundo e pelos riscos de seus potenciais efeitos econômicos.
Christopher Lewis, analista do DailyForex, avalia que a marca de 5,50 reais tem oferecido resistência nas últimas semanas, mas que é “apenas questão de tempo” antes de a moeda superá-la. Esse movimento abriria caminho para a região de 5,60 reais e, eventualmente, para máximas próximas de 6 reais.
“Acho que o nível de 5,0 reais (suporte) será uma barreira significativa que deveria atrair muita pressão compradora. No fim, acho que neste momento é muito mais fácil comprar o par dólar/real do que vendê-lo, devido a todos os riscos associados com o Brasil e a América Latina”, disse.
Na B3 (B3SA3), o dólar futuro tinha queda de 0,17%, a 5,3715 reais.
O dia era marcado ainda pelo resultado das vendas no varejo no Brasil, cujo crescimento acima do esperado para maio fortalecia esperanças de que o pior para a atividade tenha ficado para trás.
As vendas no varejo saltaram 13,9% em maio sobre abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto analistas consultados pela Reuters projetavam acréscimo de 6,0%. Na comparação anual, houve queda de 7,2%, abaixo do tombo de 12,1% previsto.
O BTG Pactual digital classificou os resultados como “muito acima da expectativa” e avaliou que, apesar do cenário “ainda repleto de incertezas, o forte crescimento deve animar investidores, na medida em que indica uma recuperação da atividade econômica”.
Mais cedo, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que o IGP-DI subiu 1,60% em junho, mais que o esperado, com os preços do atacado acelerando e voltando a se elevar no varejo. A combinação de dados econômicos melhores e leituras de inflação mais altas pode barrar expectativas adicionais de cortes de juros pelo Banco Central, evitando nova deterioração nas análises de risco/retorno para o real.
No exterior, o índice do dólar ante uma cesta de moedas tinha queda de 0,38%, reduzindo as perdas. O dólar ganhou fôlego também contra divisas de risco, como peso mexicano e peso chileno, pares emergentes do real.
Em Nova York, as bolsas de valores diminuíam o ímpeto, com o índice S&P 500 perto da estabilidade.