Dólar perde fôlego após superar R$5,40 em sessão volátil; Haddad e fiscal dominam foco
O dólar perdeu fôlego depois de mais cedo ter chegado a superar os 5,40 reais, mas ainda mostrava volatilidade, alternando altas e baixas conforme investidores digeriam falas do novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em meio a preocupações sobre a saúde das contas públicas.
Em entrevista ao portal Brasil 247, Haddad rejeitou nesta terça-feira a ideia de que o mercado tem oscilado por conta de ataques especulativos, argumentando que as movimentações ocorrem porque havia uma ideia errônea de que a economia estava no rumo certo, desafiada por números apresentados pela transição de governo mostrando que a gestão Bolsonaro deixou um rombo nas contas públicas.
Na contramão do que foi dito pelo ministro, agentes do mercado têm atrelado o tombo recente dos ativos brasileiros a incertezas sobre qual será o arcabouço fiscal que substituirá o teto de gastos sob o novo governo, bem como ao descontentamento diante de entraves à agenda de privatizações de empresas estatais.
Às 10:31 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,39%, a 5,3791 reais na venda.
Instantes após a abertura, a divisa norte-americana chegou a saltar 0,93%, a 5,4079 reais, mas logo perdeu fôlego e chegou a cair 0,34% na mínima, a 5,3400 reais, em meio a negociações instáveis.
Na B3, às 10:31 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,18%, a 5,4095 reais.
Para Maciel Vicente, economista e consultor cambial da iHUB Câmbio, o vaivém do dólar nesta manhã reflete, principalmente, a apreensão do mercado em relação às medidas econômicas que serão adotadas pelo novo governo.
“O foco deixa de ser a expectativa, a especulação, e passa a ser as ações de fato; o mercado está muito apreensivo com as ações do novo governo e isso tem deixado o câmbio muito volátil”, disse o economista.
Ele chamou a atenção para a decisão recente do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de prorrogar desonerações dos combustíveis apesar de Haddad ter deixado claro ser contra essa medida em aparições públicas anteriores.
“Quando acontece uma ação dessa, o mercado bota no preço… Qual vai ser o ponto de equilíbrio entre decisões políticas e decisões puramente econômicas?”, disse Vicente.
Nesta segunda-feira, Haddad afirmou que seus argumentos a favor do fim da desoneração dos combustíveis foram atrapalhados por obstáculos à posse do presidente indicado da Petrobras (PETR4), Jean Paul Prates, de forma que Lula decidiu prorrogar por dois meses o benefício para gasolina e álcool e um ano para outros insumos.
No exterior, o dólar avançava cerca de 1% contra uma cesta de moedas fortes, com investidores à espera da publicação, na quarta-feira, da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve.
Em dezembro, o banco central dos Estados Unidos elevou sua taxa de juros em 0,50 ponto percentual, desacelerando o ritmo de aperto em relação aos ajustes de 0,75 ponto promovidos em encontros anteriores, mas alertando que os custos dos empréstimos podem encerrar o atual ciclo em nível mais alto do que o esperado pelos mercados.
Investidores têm alertado que o posicionamento ainda agressivo do Fed no combate à inflação, aliado a incertezas domésticas sobre a saúde das contas públicas, será um dos grandes obstáculos para a valorização do real em 2023.
Na véspera, a moeda norte-americana à vista ganhou 1,52%, a 5,3580 reais na venda, maior valorização diária desde 25 de novembro (+1,838%) e patamar de encerramento mais alto desde 28 de novembro (5,3645).
(Atualizado às 10:46)