Dólar sai de mínimas após flertar com R$ 4,90, mas segue no vermelho pelo 5° dia seguido
O dólar afastou-se das mínimas do dia após flertar com a marca de 4,90 reais nesta terça-feira de negociações voláteis, em meio à percepção de um cenário doméstico atraente para investidores estrangeiros, mas continuava a caminho de registrar seu quinto pregão seguido de desvalorização.
Às 11:25 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,35%, a 4,9262 reais na venda. Na mínima do dia, a divisa chegou a cair 0,77%, a 4,9053 reais; caso mantivesse esse comportamento até o fim dos negócios, a moeda registraria um piso para encerramento desde 9 de junho de 2020 (4,8885).
No entanto, após tocar esse nível, o dólar ganhou fôlego e chegou a devolver completamente as perdas ante o real, atingindo 4,9450 reais no pico da sessão, variação positiva de 0,03%.
Especialistas disseram à Reuters que o movimento pareceu ser técnico, sem notícias específicas como catalisador, com os mercados testando novos suportes para o dólar depois de a moeda ter rompido definitivamente a barreira dos 5,00 reais na véspera.
Na segunda, a divisa spot caiu 1,47%, a 4,9435 reais na venda, menor patamar para encerramento desde 29 de junho de 2021 (4,9431 reais) e primeira vez desde 30 de junho passado que fechou um pregão abaixo de 5.
“Essa subida (do dólar ante as mínimas do dia) provavelmente é algum fluxo grande… pode ser empresas realizando/antecipando pagamentos, fazendo hedge ou investidores montando posições compradas nesse nível”, disse Alexandre Netto, chefe de câmbio da Acqua-Vero Investimentos.
Embora tenha saído dos pisos da sessão, a divisa norte-americana ainda dava sequência a uma tendência de desvalorização vista desde o início do ano, em que acumula baixa de 11,6% frente ao real, deixando a moeda brasileira com a melhor performance global no período. O dólar caiu em nove das 11 semanas completas de negociação de 2022.
Tornando o Brasil mais interessante aos olhos de agentes estrangeiros está o ciclo de aperto monetário iniciado em março do ano passado pelo Banco Central, que levantou a taxa Selic de uma mínima histórica de 2% para o patamar atual de 11,75%. Isso deixou o Brasil com uma das maiores taxas de juros nominais do mundo, atrás apenas de países considerados muito arriscados para investimento e com inflação muito acelerada: Argentina, Rússia e Turquia.
Isso “torna o (Brasil) bastante atraente para o investidor internacional, gera forte fluxo de recursos para o país e valorização da taxa de câmbio”, escreveram analistas da Genial Investimentos, que também atribuíram parte da valorização recente do real a algum alívio nos ruídos fiscais domésticos.
O Brasil tem surpreendido positivamente no que diz respeito às contas públicas. Depois de ter encerrado 2021 com o primeiro superávit primário em oito anos, o país registrou saldo positivo recorde no mês de janeiro, quando a dívida bruta ficou abaixo de 80% do PIB pela primeira vez desde abril de 2020.
Ao mesmo tempo, a moeda doméstica parece ter se beneficiado de uma disparada global nos preços das commodities, provocada pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
Os custos mais elevados de petróleo, commodities agrícolas e matérias-primas tendem a intensificar o ingresso de dólares em países exportadores desse tipo de produto, principalmente na América Latina, vista como menos vulnerável às tensões geopolíticas.
“Com esse nível de preços de commodities os investidores buscam no Brasil um asilo importante. Ainda está a se confirmar a intensidade e a manutenção desse investidor aqui no Brasil, mas, mais importante, é o sinal que no curto prazo tem se confirmado” de ingresso de recursos estrangeiros no país e valorização do real, comentou no Twitter Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.
(Atualizada às 11:35)