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Dólar despenca ante real pelo 2° dia consecutivo de olho em vantagem de Biden

05 nov 2020, 17:15 - atualizado em 05 nov 2020, 17:34
dólar
Mais cedo, na mínima do pregão, a moeda registrou queda de quase 2,2% (Imagem: Diana Cheng/Money Times)

O dólar fechou em forte baixa contra o real pelo segundo dia consecutivo nesta quinta-feira, depois de ter despencado mais de 2% durante o pregão, refletindo a fraqueza mundial da moeda norte-americana à medida que o democrata Joe Biden ficava mais perto de conquistar a presidência dos Estados Unidos.

O dólar à vista cedeu 1,97%, a 5,5455 reais na venda, seu menor patamar para encerramento desde 9 de outubro(5,5268).

Mais cedo, na mínima do pregão, a moeda registrou queda de quase 2,2%, a 5,5335 reais na venda, seu menor patamar intradiário desde 13 de outubro.

Na B3 (B3SA3), o dólar futuro de maior liquidez caía 1,87%, a 5,550 reais.

Na eleição norte-americana mais contestada dos últimos tempos, Biden se aproximava da vitória, enquanto autoridades apuravam os votos em alguns Estados que determinarão o resultado do pleito.

O atual presidente, Donald Trump, que tenta a reeleição, alegou fraude sem apresentar evidências, entrou com processos na Justiça e pediu recontagens de votos em uma disputa que ainda não tem resultado dois dias depois de ser realizada.

Em nota, Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora, destacou a desvalorização do dólar nos mercados internacionais, contra moedas tanto de países ricos como de emergentes, dizendo que “o ambiente positivo faz com que os investidores busquem risco”.

O índice da moeda norte-americana contra seis pares fortes caía mais de 0,8%, enquanto o dólar cedia terreno contra peso mexicano, rand sul-africano e a divisa australiana.

O time econômico da Guide Investimentos escreveu que “o mercado já passa a apostar no cenário mais provável: uma vitória de Biden acompanhada pela manutenção da maioria na Câmara pelos democratas, enquanto os republicanos seguirão controlando o Senado”.

Embora uma eleição contestada com vitória de um presidente que não contará com maioria no Senado já tenha sido apontada como um cenário menos favorável ao mercado financeiro, “caso o cenário acima se concretize, cresce a avaliação de que a manutenção da maioria republicana no Senado impedirá a reversão completa dos estímulos implementados por Donald Trump no âmbito tributário, … além de outras mudanças mais drásticas”, completaram os analistas.

Além disso, há entre os investidores uma forte percepção de que as políticas de Biden colaborariam para um dólar globalmente mais fraco, principalmente com a expectativa de aprovação de novas medidas de auxílio fiscal na maior economia do mundo, o que pode dar apoio a divisas emergentes.

“A possível vitória do Biden cada hora mais próxima  faria com que a capacidade de utilização fiscal no país fosse maior, com emissão de dívida, impressão de moeda… Isso faz a moeda norte-americana perder valor”, explicou à Reuters Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multi Family Office.

Ele acrescentou que o patamar baixo dos juros nos Estados Unidos ajudou a reduzir a atratividade dos rendimentos do país, outro fator de pressão para a moeda norte-americana.

Nesta quinta-feira, depois de reunião de política monetária, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Federal Reserve manteve sua principal taxa de juros inalterada, próxima de zero, e se comprometeu novamente a fazer o que puder nos próximos meses para sustentar uma recuperação econômica.

Por aqui, ficava em segundo plano a notícia de que o Senado seguiu a Câmara dos Deputados e rejeitou na quarta-feira o veto presidencial que impedia a prorrogação da desoneração da folha de pagamento a mais de 17 setores da economia.

Segundo fonte do time econômico, a rejeição significará um impacto não previsto de 4,9 bilhões de reais, a ser acomodado no projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2021 para que o Congresso corte despesas discricionárias no mesmo montante para devida compensação.

“Ofuscada pela eleição americana, a derrubada do veto é negativa para a economia e demonstra a enorme dificuldade que o país tem de ser austero”, disseram analistas da Levante Investimentos em nota a clientes.

Temores sobre a saúde das contas públicas têm estado sob os holofotes dos mercados brasileiros há alguns meses, principalmente em meio a dúvidas sobre como o governo financiaria os gastos provocados pela pandemia de coronavírus sem furar o teto de gastos.

Esse cenário, somado ao patamar extremamente baixo da taxa Selic, deixa o dólar em alta de cerca de 38% contra o real em 2020.