Dólar continua em alta: os 3 motivos que fazem a moeda norte-americana encostar em R$ 5,70 em menos de um mês
O dólar à vista (USBRL) voltou a se aproximar das máximas do ano nesta quarta-feira (24). A divisa norte-americana atingiu máxima intradia a R$ 5,6618 (+ 1,35%) e fechou a R$ 5,6562 (+1,25%).
Se no início do mês, a moeda norte-americana ganhou força com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os gastos públicos e ataques ao Banco Central, os gatilhos para a forte valorização do dólar hoje são os fatores externos.
O real perde força à medida que as commodities acumulam quedas consecutivas e o iene se recupera ante o dólar, com novos rumores de intervenção do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) no câmbio.
As eleições nos Estados Unidos seguem no radar após a desistência de Joe Biden à reeleição e a entrada de Kamala Harris como a possível candidata do Partido Democrata na disputa pela Casa Branca.
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Forte valorização do iene
A moeda japonesa tem acumulado ganhos contra o dólar em meio a suspeitas de intervenção cambial.
Além disso, há expectativas de que o Banco do Japão (BoJ) volte a elevar juros na reunião de política monetária que acontece na próxima semana.
Um iene valorizado ante o dólar e a eventual diminuição no diferencial de juros entre Japão e Estados Unidos levam investidores a reverterem as operações de “carry trade”, afirma Guilherme Suzuki, sócio da Astra Capital.
Esse movimento nada mais é do que uma operação em que os investidores tomam ativos em locais com juros baixos para rentabilizar em outros com juros mais altos.
A valorização do iene pressiona divisas emergentes como o real, já que a moeda serve como funding para posições ‘short’ contra moedas de carry trade — entre elas, a moeda brasileira.
Sendo assim, intervenções no câmbio do Japão tendem a provocar uma realização forçada das demais divisas emergentes.
Incertezas sobre a China
No início da semana, a China surpreendeu os mercados ao cortar taxas de juros de curto e longo prazos, sinalizando a intenção de impulsionar o crescimento da segunda maior economia do mundo.
Contudo, o estímulo é considerado insuficiente na avaliação do mercado.
Sendo assim, os ativos emergentes também estão sendo impactados por uma fraqueza dos preços de commodities, uma vez que pioraram as perspectivas econômicas na China, grande importadora de matérias-primas.
A queda de dois produtos em particular prejudica o Brasil, que é um exportador de commodities. Os preços do petróleo seguem próximos às mínimas de seis semanas, enquanto os contratos futuros de minério de ferro atingiram o menor valor em mais de três meses na véspera.
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Dólar em alta: foco no cenário fiscal
Mais uma vez, as preocupações dos investidores sobre o cenário fiscal pesam sobre o câmbio.
O detalhamento da contenção de R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano com o objetivo de cumprir as exigências do arcabouço fiscal não foi apresentado no 3º Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado na última segunda-feira (22).
Para Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos, a principal preocupação é se o valor anunciado pelo governo na semana passada será suficiente para cobrir os gastos, sobretudo, com a previdência.
Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, afirmou que a previsão de gastar R$ 923,1 bilhões com benefícios previdenciários neste ano é “factível”, assim como atingir a economia de R$ 9,05 bilhões já estimada no Orçamento com ações de revisão e combate a fraudes.
No relatório divulgado pelos ministério do Planejamento e da Fazenda na última segunda-feira (22), a equipe econômica prevê o aumento em R$ 5,3 bilhões da despesa financeira projetada com benefícios do INSS no Orçamento — o que, na projeção de alguns analistas, estaria defasada entre R$ 10 bilhões a R$ 20 bilhões.
“Se houver esse erro das contas do governo se confirmar, o valor anunciado para o contingenciamento será insuficiente e ainda abre mais espaço para mais gastos”, afirma Viotto, da EQI Investimentos.
Ontem (23), a ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que a equipe econômica fará uma coletiva de imprensa na próxima semana para detalhar cortes de gastos nos orçamentos de 2024 e 2025 gerados a partir da revisão de programas do governo.
“Se não tiver nenhuma ação corretiva do governo [sobre as projeções das contas públicas], alguma outra medida para o corte de gastos ou alguma declaração [do governo] nessa linha, a moeda brasileira deve seguir bastante pressionada”, disse Viotto.