Dólar: Como fica a moeda após Haddad apresentar o arcabouço fiscal?
O dólar à vista exibe forte volatilidade no pregão desta quinta-feira (30) com o mercado doméstico reagindo ao novo arcabouço fiscal, apresentado hoje pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Com isso, a moeda norte-americana exibiu forte oscilação operando em alta e queda, renovando mínimas a R$ 5,07 e máximas a R$ 5,16.
Por volta das 13h10 (de Brasília), o dólar recuava 0,4% frente ao real, cotado a R$ 5,11 para venda. Enquanto o contrato futuro com vencimento em abril caía na mesma magnitude, aos R$ 5,12. Lá fora, o Dollar Index (DXY) tinha queda perto de 0,4%, aos 102,2 pontos.
Como ficou o arcabouço fiscal?
Haddad apresentou no fim da manhã de hoje as novas regras de responsabilidade fiscal, que substituirá o teto de gastos. Entre as diretrizes do novo arcabouço fiscal está:
- Compromisso de trajetória de superávit primário até 2026, com meta e banda de variação tolerável.
- O atual teto de gastos passa a ter banda com crescimento real da despesa primária entre 0,6% a 2,5% ao ano (mecanismo anticíclico), com FUNDEB e piso da enfermagem excluídos dos limites.
- Crescimento anual dentro da faixa de crescimento da despesa limitado a 70% da variação da receita primária dos últimos 12 meses.
- Resultado primário acima do teto da banda permite a utilização do excedente para investimentos.
- Se os esforços do governo federal de aumento de receitas e redução de despesas resultarem em primário abaixo da banda, obriga a redução do crescimento de despesas para 50% do crescimento da receita no exercício seguinte.
Leia a apresentação do arcabouço fiscal na íntegra
Na análise do consultor André Perfeito, pelo comunicado, fica claro que a busca do governo será pelo superávit primário criando uma razão menor de crescimento entre receita e despesa. Segundo ele, o ministro da Fazenda garante que não haverá aumento de carga.
“De fato, isso é verdade no sentido da criação de novos impostos ou mudança de alíquotas. Mas fica também evidente que o governo buscará aumentar a arrecadação indo atrás de quem não paga impostos ou que está sonegando”, avalia Perfeito.
Entretanto, o consultor aponta que “há um problema na mesa”. Segundo ele, buscar reonerar certos setores ou mesmo começar a tributar setores que não estão tributados é uma briga política “com P maiúsculo”.
“O plano apresentado tem a virtude de não precisar desse aumento de arrecadação para funcionar. Todavia, de jogar pressão sobre os políticos para rever os benefícios tributários concedidos, caso queiram aumentarmos gastos”, comenta.
Haddad e arcabouço fiscal mordem e assopram dólar
O dólar recuava desde a abertura dos negócios à espera da divulgação do documento. Enquanto Haddad não começava a coletiva de imprensa para apresentação das novas regras, o documento foi divulgado e, antes das explicações, a moeda americana estressou, renovando máximas sucessivas.
Entretanto, o mercado passou a reagir positivamente ao novo arcabouço fiscal e o dólar passou a novamente cair frente ao real. “O mercado reagiu com certo otimismo. Mas não tenhamos dúvidas. Este é apenas o primeiro movimento de muitos que terão que ocorrer nos próximos anos”, comenta Perfeito.
“O próprio Haddad se superou e o arcabouço fiscal superou as expectativas e bem convincente. Se o Congresso aprovar da forma que veio, trará algum conforto para os ativos locais”, observa o sócio-diretor da Pronto Invest, Vanei Nagem.
Segundo ele, Haddad está se mostrando “parcimonioso”, sem querer “peitar ninguém”. Com isso, o mercado está gostando da postura do ministro da Fazenda e o dólar tem força para se aproximar dos R$ 5,00, diz Nagem.
Contudo, o analista de inteligência de mercado da StoneX, Leonel Mattos, lembra que o texto final deverá ser divulgado nos próximos dias.
“Investidores estão entendendo como o novo governo encara as necessidades de uma estabilização fiscal e a possibilidade dele seguir à risca o que ele propõe. E há uma clara dedicação da atual equipe econômica com a nova proposta fiscal e são metas possíveis de ser alcançadas durante o mandato do presidente Lula“, acrescenta Mattos.