Dólar: Após forte oscilação na primeira semana de Lula, o que esperar para o moeda em 2023?
Na semana passada, Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a presidência da República e empossou ministros, que deram declarações suficientes para fazer o dólar à vista atingir o maior valor desde julho do ano passado, a R$ 5,47, frente ao real.
O alta de quase R$ 0,20 da moeda norte-americana assustou o mercado financeiro na primeira semana do novo governo e elevou a cautela de investidores, junto com o exterior, onde a divisa exibiu força em relação aos pares.
Esses dois ingredientes, o cenário político e externo, reforçaram na primeira semana que 2023 será um ano desafiador e que o dólar deve operar no modo volátil em meio à visão “curto prazista do mercado”.
Perspectivas para o dólar em 2023
“O mercado é muito curto prazista e tem esse problema de miopia, de querer enxergar o que está na frente e perder a visão de longo prazo”, diz sócio e gestor da Galápagos Capital, Fábio Guarda.
Ele lembra que, quando Lula foi eleito no segundo turno das eleições, houve um primeiro rali.
Porém, na semana seguinte, o mercado estressou-se com o presidente eleito indicando ser mais desenvolvimentista.
“Daí, os ativos domésticos passaram por uma realização, junto também das discussões em cima da PEC da Transição. O nosso mercado se prende muito a questões de curto prazo”, comenta.
Guarda avalia que o prognóstico para este ano é que, enquanto o arcabouço fiscal não for resolvido, haverá uma força antagônica entre o cenário fiscal e a inflação puxando a moeda para cima.
“Enquanto o carrego favorável vai puxar o dólar para baixo. Esse equilíbrio de forças não dá espaço para uma moeda mais para baixo. E não tem muito espaço para forte desvalorização também. O que a gente vê hoje e deve continuar vendo é um equilíbrio de forças”, observa. Porém, o tom é de cautela.
O gestor da Galápagos diz que o clima é de cautela com o Brasil entre as gestoras. “Não vejo muita gente positiva com o país. Daí, gestoras estão mais expostas ao real. Cautela é a palavra em voga nas mesas [de operação]”, acrescenta Guarda.
Antes de diagnósticos, diz o analista da Empiricus, João Piccioni, é preciso “esperar o governo a lidar com as questões fiscais do país”.
Além de Brasília, exterior também pesa
Não só de decisões políticas vive o dólar. O exterior seguirá pesando na precificação da moeda com o ciclo de aperto monetário no radar dos investidores. Segundo Guarda, os Estados Unidos estão longe de combater a inflação no país.
Com isso, se o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) continuar indicando alta da taxa de juros, teremos um dólar ainda fortalecido frente a outras moedas.
“Aí, fica difícil do real não ser impactado. A expectativa do mercado é de que o Fed pare de subir juros no primeiro trimestre, mas de forma mais contida. Ainda vejo que está longe um alívio na inflação americana”, observa Guarda.
Já Piccioni, da Empiricus, pondera que o dólar parece ter encontrado um patamar de equilíbrio no exterior.
“Mas a economia norte-americana dá sinais de fadiga e caminha para uma recessão. Observo que o dólar está remunerando o investidor de forma razoável. Com isso, é provável que o mundo veja um fluxo mais forte para o dólar em âmbito global neste começo de ano”, acrescenta.
Dólar no curto prazo
Para Guarda, da Galápagos, pelo menos nos primeiro meses de 2023, o mercado “ficará precificando o próximo problema”, corroborando a visão “curto prazista” de investidores locais. Entretanto, ele estima que a moeda oscile entre R$ 5,20 a R$ 5,40 no primeiro trimestre, em linha com a cotação da semana passada.
O analista da Empiricus vê a moeda americana pressionada globalmente e sendo ajustada com taxa de juros e cenário fiscal.
“Vejo o dólar indo a R$ 5,60 a R$ 5,70 caso a dinâmica fiscal local se deteriore associado ao problema de recessão da economia dos Estados Unidos. Além disso, se tiver queda no preço das commodities, o cenário para esses primeiros meses é de dólar para cima”, reitera.