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Dólar supera R$ 5,79 após atingir a maior cotação em mais de três anos; o que está por trás da forte alta?

30 out 2024, 11:11 - atualizado em 30 out 2024, 11:11
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O dólar à vista opera em alta nas primeiras horas do pregão e se aproximou da máxima intradia do ano com dados e eleições nos EUA (Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes)

O dólar à vista (USDBRL) opera em alta nas primeiras horas do pregão e se aproximou, novamente, da maior cotação intradia de 2024 (até agora)

Por volta de 10h (horário de Brasília), a moeda norte-americana atingiu R$ 5,7927 (+0,54%), na máxima do dia. Esse é o maior nível desde agosto.



A divisa norte-americana tem acumulado ganhos contínuos nas sessões recentes em meio à crescente incerteza sobre o compromisso do governo com as contas públicas.

Na véspera, o dólar atingiu o nível mais alto desde 30 de março de 2021, encerrando o dia a R$ 5,7616. 

No cenário externo, o câmbio reage a uma bateria de dados econômicos nos Estados Unidos. O indicador DXY, que compara o dólar a uma cesta de seis divisas, opera próximo da estabilidade. Mais cedo, o índice subiu 0,12%, aos 104,436 pontos. Acompanhe o Tempo Real. 

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Veja o que está influenciando na disparada do dólar

1 – Cenário fiscal 

O cenário fiscal doméstico continua como um fator de preocupação entre os investidores, que esperam o anúncio de novos medidas fiscais. 

Ontem (29), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o conjunto de medidas de contenção de gastos a ser apresentado pela área econômica do governo ainda está em análise e não há uma data para ser divulgado. Ele ainda disse a equipe econômica tem feito contas para “fazer uma coisa ajustadinha”.

Em entrevista rápida a jornalistas na saída da Fazenda, Haddad afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu mais dados sobre as propostas e que a Fazenda está fornecendo as informações.

Em reação, a curva de juros brasileira reflete os temores com a questão fiscal, com as taxas de Depósitos Interfinanceiros (DIs) sustentando os fortes ganhos da véspera em quase todas as opções de vencimento.

A disputa interna sobre cortes de gastos, medida defendida pela equipe econômica, mas vista com resistência por outros membros do governo, tem ajudado o dólar em seus ganhos frente ao real.

2 – Dados econômicos mais fortes

Os dados econômicos no Brasil e nos Estados Unidos também dão “um empurrão” no dólar ante o real. Isso porque os agentes financeiros já precificam as reuniões de política monetária do Banco Central e do Federal Reserve (Fed), que acontecem na próxima semana.

O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) acelerou mais do que o esperado por analistas em outubro, em alta de 1,52%, depois de ter avançado 0,62% no mês anterior. O dado foi divulgado hoje pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A expectativa em pesquisa da Reuters com analistas era de alta de 1,48%.

Nos Estados Unidos, os investidores digerem novos dados do mercado de trabalho. O relatório da ADP mostrou que 233.000 postos de trabalho foram criados no setor privado norte-americano em outubro, ante 159.000 vagas abertas (revisadas para cima) no mês anterior.

Economistas consultados pela Reuters projetavam uma desaceleração na abertura de vagas para 114.000 em outubro.

Acrescentando à percepção de força da economia norte-americana, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu 2,8% no terceiro trimestre, um pouco abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de expansão de 3%, mas com os gastos das famílias e do governo subindo 3,7%.

O número ainda ficou acima da alta de 1,8% que o Fed considera como um crescimento não inflacionário.

Os resultados afastaram ainda mais a tese de desaceleração econômica e enfraquecimento do mercado de trabalho dos EUA, o que deve impactar diretamente os próximos movimentos do Fed, que entrou no mês passado em um ciclo de afrouxamento monetário.

Operadores reduziram as apostas de cortes de 25 pontos-base nas duas reuniões restantes do Fed no ano. Os traders agora veem 96,3% de chance de o BC levar os juros para a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano, segundo a ferramenta de monitoramento FedWatch, do CME Group. Ontem (29), a probabilidade era de 98,4% no final do dia.

O movimento também tem elevado os rendimentos (yields) dos Treasuries. O rendimento do Treasury de dois anos — que reflete apostas para os rumos das taxas de juros de curto prazo — registrou máxima intradia a 4,154%, logo após a divulgação dos dados.

3 – Eleições nos Estados Unidos

As eleições à presidência dos Estados Unidos, que acontecem em 5 de novembro, também tem impulsionado o dólar em todo o mundo — como já esperado.

A última pesquisa da Reuters/Ipsos, divulgada na terça-feira (29), mostrou que a vantagem da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, sobre Trump diminuiu ainda mais na reta final da disputa presidencial, com a democrata à frente por um único ponto percentual sobre o republicano, 44% a 43%.

A pesquisa entrevistou 1.150 pessoas entre os dias 25 e 27 de outubro.

Com isso, os investidores seguem apostando na vitória do ex-presidente Donald Trump, o que pode levar a implementação de medidas consideradas inflacionárias, como tarifas e redução de impostos.

Em números, a volatilidade implícita em uma única semana entre o euro e o dólar subiu para seu nível mais alto desde março de 2023, quando os EUA lidavam com uma pequena crise bancária, mostraram dados da LSEG, no caminho de seu maior aumento diário desde 2017.

Vale lembrar que na semana anterior à eleição de 2026, vencida por Trump, a volatilidade entre as duas moedas atingiu quase 14%.

A vitória do republicano também representa um risco de fraqueza às moedas da América Latina, como o real. Segundo o JP Morgan, a moeda brasileira deve ser a terceira mais afetada, atrás apenas do peso mexicano e chileno.

Um dos impactos no câmbio são as tarifas comerciais, que o ex-presidente dos EUA já prometeu reforçar caso eleito. Nesse contexto, também há o impacto indireto dada a fortes relações de comércio com a China.

*Com informações de Reuters