Dólar acompanha exterior e tem forte alta ante real com perspectiva de Fed mais agressivo
O dólar saltava contra o real na manhã desta quinta-feira, acompanhando a força da moeda norte-americana no exterior conforme cresciam as apostas de que o Federal Reserve promoverá um aperto monetário mais agressivo do que o anteriormente estimado pelos mercados financeiros.
A adoção de um aumento de juros de 1 ponto percentual completo pelo banco central dos Estados Unidos em sua próxima reunião, no final deste mês, já é o cenário mais provável segundo alguns indicadores do mercado.
Apostas em ajuste dessa magnitude cresceram depois que dados da véspera mostraram a inflação norte-americana acelerando para nova máxima em mais de 40 anos em junho.
Na quarta-feira, na esteira dos números, o dólar perdeu força contra moedas de várias partes do mundo, inclusive contra o real, mas investidores atribuíram esse comportamento a um movimento técnico de realização de lucros.
Passado esse ajuste, a moeda norte-americana recobrava fôlego de forma generalizada nesta sessão, já que a perspectiva de juros mais altos nos EUA, além de dever atrair investimentos para lá, pode prejudicar o apetite por risco global, uma vez que reforça os riscos de uma recessão.
“A economia, invariavelmente, irá sofrer” diante dos esforços do Fed para conter a inflação, escreveu Dan Kawa, diretor de investimentos da TAG.
“Resta a dúvida de qual será a velocidade, magnitude e duração da desaceleração do crescimento. Os riscos de um resultado mais negativo aumentaram consideravelmente.”
Às 10:43 (de Brasília), o dólar à vista avançava 1,49%, a 5,4845 reais na venda.
Na B3, às 10:43 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,68%, a 5,5090 reais.
No exterior, o índice do dólar contra uma cesta de seis rivais fortes avançava 0,51%, a 108,820, rondando novas máximas em duas décadas.
“Historicamente, quando o dólar sobe nesta velocidade e proporção, convivemos com um cenário econômico e para mercados bastante desafiador”, disse Kawa.
Sinal da aversão a risco generalizada, a maioria das moedas de países emergentes tinha perdas acentuadas neste pregão, com peso chileno e rand sul-africano na lanterna.
No Brasil, incertezas fiscais exacerbavam o pessimismo vindo dos mercados internacionais.
Na véspera, a Câmara dos Deputados aprovou em segundo turno a PEC dos Benefícios, que amplia e cria novos programas de auxílio a menos de três meses das eleições de outubro, com previsão de despesas fora do teto de gastos.
Espera-se que a proposta seja promulgada ainda nesta semana.
“As medidas anunciadas conduzirão, em alguns casos, a uma má distribuição de recursos na economia e poderão ter um impacto duradouro nas finanças públicas”, disse em relatório Alberto Ramos, diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, acrescentando que novos estímulos à população podem dificultar a tarefa do Banco Central de conter a inflação.
“Além disso, outra emenda constitucional que permite gastos além do teto de gastos é um desenvolvimento negativo na medida em que leva a uma maior erosão das principais âncoras fiscais.”
Uma medida comumente acompanhada do risco-país do Brasil fechou a quarta-feira em 315,04 pontos-base, nova máxima desde maio de 2020, quando os mercados ainda sentiam os primeiros impactos da pandemia de Covid-19.
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