Dólar segue exterior e tomba ante real com alívio sobre China e foco na PEC da Transição
O dólar caía frente ao real nesta terça-feira, acompanhando o bom humor internacional em meio a sinalizações do governo chinês de que pode flexibilizar sua política de Covid-zero, embora incertezas fiscais domésticas persistissem após o envio da PEC da Transição ao Senado com prazo de quatro anos e exceção ao teto de até 198 bilhões de reais.
Às 10:56 (de Brasília), o dólar à vista recuava 0,81%, a 5,3210 reais na venda.
Na B3, às 10:56 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,87%, a 5,3210 reais.
As perdas do dólar frente ao real estavam amplamente em linha com movimento visto no mercado de câmbio internacional, onde a moeda norte-americana perdia acentuadamente contra várias divisas emergentes ou sensíveis às commodities. Dólar australiano, rand sul-africano e peso mexicano, por exemplo, ganhavam mais de 1% cada.
Impulsionando o sentimento de investidores, a China vai acelerar a vacinação contra a Covid-19 para idosos com o objetivo de superar um obstáculo importante nos esforços para aliviar as restrições de combate à doença, que desencadearam raros protestos nos últimos dias em meio ao descontentamento da população.
“Havendo uma flexibilização na China, isso dá esperanças de uma melhora na atividade e retomada da demanda por commodities”, disse à Reuters o economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung. Os preços do petróleo e do minério de ferro disparavam nesta manhã, fornecendo apoio a divisas sensíveis a esse tipo de produto, como o real.
Enquanto isso, no Brasil, o texto da PEC da Transição protocolado no Senado pelo relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro (MDB-PI), abre uma exceção à regra do teto de gastos de 175 bilhões de reais por quatro anos para custear o Bolsa Família.
Ele prevê ainda que 6,5% do excesso de arrecadação do governo possam ser aplicados em investimentos públicos sem contabilização na norma fiscal a partir do ano que vem. Em 2023, esse montante seria de 23 bilhões de reais, levando o gasto extra-teto para quase 200 bilhões de reais.
Embora o valor, o mesmo inicialmente pretendido pelo governo eleito, tenha desagradado investidores, restavam esperanças de que a proposta possa ser desidratada durante tramitação no Congresso.
“O discurso do governo eleito parece ser de que vai enviar (a PEC) para o Congresso como gostaria e aí vai entender como que vai ficar” o texto, disse Sung. “Com possibilidade de se enxugar a PEC no Congresso e evitar uma irresponsabilidade fiscal maior, o dólar tem uma leve pressão para baixo.”
Ainda assim, o Banco Inter disse em nota que a PEC da Transição “continua gerando desconforto nos mercados”, principalmente em meio a especulações de que o ex-prefeito Fernando Haddad será o indicado de Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Fazenda.
Aos olhos de investidores, Haddad não tem um perfil muito técnico e provavelmente será inclinado a flexibilizações das regras fiscais do país caso assuma a pasta.
Sung, da Suno, disse que a indicação de uma equipe econômica com respaldo dos mercados financeiros seria essencial para reduzir a volatilidade.
“Eu acho que o Haddad está sendo ventilado (pelo governo eleito) mas também acho que Lula sabe que precisa dar bons resultados econômicos no primeiro ano para evitar problemas de governabilidade e popularidade”, avaliou o economista, que prevê dias de instabilidade nas negociações cambiais à medida que investidores reagem a diferentes sinalizações sobre a composição da equipe ministerial do governo eleito.
Na véspera, o dólar à vista perdeu 0,80%, a 5,3645 reais na venda.
(Atualizada às 11:01)
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