Mercados

Dólar, ações, criptomoedas e petróleo: quem ganha com Harris ou Trump no pós-eleição

05 set 2024, 16:29 - atualizado em 05 set 2024, 16:29
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Charles Myers, da Signum Global Advisors, mantém uma perspectiva favorável à economia dos Estados Unidos (Imagem: Karolina Kaboompics/Pexels)

A exatos dois meses das eleições, a corrida presidencial nos Estados Unidos está acirrada. 

Na última pesquisa da Reuters/Ipsos, divulgada em 29 de agosto, Kamala Harris tem vantagem sobre Donald Trump com 45% das intenções de voto contra 41% do ex-presidente republicano. 

Mas, independente do vencedor das eleições presidenciais, nada deve mudar quanto a disciplina dos gastos públicos, na visão de Charles Myers, fundador e presidente da empresa de pesquisa Signum Global Advisors.

“O problema maior é que temos dois partidos e, portanto, quem quer que ganhe, não importa quem ganhe, o déficit [fiscal] sobe”, disse durante o Empiricus Asset Day realizado nesta quinta-feira (5). 

Para Myers, a única diferença é que os democratas querem aumentar os impostos e os republicanos querem cortá-los.

“Enquanto os Estados Unidos continuarem a ter a moeda de reserva mundial, seremos tão irresponsáveis ​​fiscalmente quanto possível.”

A despeito do fiscal, a perspectiva continuará positiva em qualquer cenário, por pelo menos dois motivos. 

O primeiro deles é que o país concentra as maiores empresas de inteligência artificial do mundo — o que tem impulsionado o mercado de ações e levou as bolsas a recordes históricos em julho. 

O outro é a China. A maior preocupação dos economistas e investidores em todo mundo, na avaliação de Myers, era de uma desaceleração no gigante asiático — que poderia refletir negativamente nos Estados Unidos. 

Ao contrário do que se previa, “a economia chinesa está estagnada há quatro anos, enquanto a economia norte-americana está avançando lentamente por causa do estímulo trilionário de Biden”.

Mas, além do cenário macroeconômico, para onde vai o dólar, o petróleo e o mercado de ações em caso de eleição de Kamala Harris? E de Donald Trump? 

Mercado de ações 

Para Myers, há sempre a narrativa de que os democratas “vão te taxar até a morte, gastar muito, destruir a economia e quebrar seu mercado de ações”. 

“A verdade é que, até hoje, sob governos democratas, a economia definitivamente teve desempenho superior e o mercado de ações teve desempenho elevado”, disse. “Talvez Harris seja a exceção, mas, até agora, os democratas têm feito um trabalho muito bom ao governar.”

Em uma vitória do republicado Donald Trump, o ponto positivo é a desregulamentação dos serviços financeiros, entre eles, a indústria de ativos digitais — as criptomoedas. 

“A indústria de criptomoedas se tornou o segundo lobby mais poderoso em Washington depois da indústria farmacêutica. E como parte do uso eficiente de seu capital, eles têm educado membros do Congresso e se envolvido com a equipe de Trump”. 

Dólar 

O dólar deve seguir forte independente de quem for morar na Casa Branca, segundo ele. Mas isso só deve acontecer se a economia norte-americana continuar a ter um bom desempenho, além de certa previsibilidade política. 

“Os democratas favorecem um dólar mais forte, mas Harris não disse nada sobre o câmbio, então todo mundo está meio que chutando. Já para Trump, o dólar desvalorizado é realmente interessante porque ajuda os exportadores”, disse Myers, da Signum Global Advisors durante o evento da Empiricus. 

Além disso, um dólar mais fraco diminui o déficit comercial dos Estados Unidos com os países europeus, por exemplo. 

“Trump vê um dólar mais fraco como, em parte, uma solução para alguns dos nossos problemas comerciais, mas também protegendo a indústria e empregos.”

Outro motivo é a continuidade com a guerra comercial com a China e com a União Europeia. 

Petróleo 

“A maior mudança, se Trump vencer, é que seu objetivo número 1 é fazer todo o possível para garantir que os Estados Unidos se tornem um produtor e exportador ainda maior de petróleo e gás natural”, afirma Myers.

Embora os EUA já sejam autossuficientes em energia, a política do ex-presidente tem por objetivo derrubar os preços do petróleo — o que impulsiona a economia norte-americana frente, principalmente, aos países exportadores de commodity e a Europa. 

“Se o preço do petróleo for comercializado estruturalmente mais baixo, isso tem enormes implicações orçamentárias para a Opep+ [Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados] e outras economias que dependem do preço do petróleo para exportações.”

Já Kamala Harris deve dar maior ênfase para a transição para energias renováveis, principalmente solar, eólica e geotérmica. 

“Não necessariamente às custas dos combustíveis fósseis, mas apenas tentando ajudar por meio das agências e por meio de outros financiamentos para tentar acelerar mais, mais rápido a transição.”

Estados Unidos versus Europa e China?  

Charles Myers, da Signum Global Advisors, considerou que a guerra comercial com a China deve continuar em caso de vitória de Donald Trump. Mas, segundo ele, o republicado deve mirar, mais firmemente, a União Europeia.  

“Trump sempre foi anti-União Europeia (UE). Então, na política comercial, o que é mais subestimado é o quão ruim será o relacionamento EUA-UE por causa das tarifas que devem ser impostas em produtos europeus, automóveis, bens de luxo, aço, alumínio e aviação.”

Ele também afirma que outra fonte de tensão entre os EUA e a UE será a tentativa de Trump em pôr fim à guerra na Ucrânia. 

Além disso, “Trump tende a ser um pouco mais favorável a Israel, mas Harris será quase incondicionalmente favorável também”

“A maior mudança na política externa será no comércio, uma administração mais protecionista e usando tarifas de forma muito mais proativa e agressiva.” 

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Jornalista formada pela PUC-SP, com especialização em Finanças e Economia pela FGV. É repórter do MoneyTimes e já passou pela redação do Seu Dinheiro e setor de análise politica da XP Investimentos.
liliane.santos@moneytimes.com.br
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